A ditadura do dinheiro
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/06/10
SÃO PAULO - Saiu em um blogue do "Wall Street Journal" a melhor definição para o encontro do G20 no fim de semana na Coreia: "Compromissos do G20, música para os ouvidos dos banqueiros".
De fato, os ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais do clubão das maiores economias refugaram de novo impor regras para o funcionamento do sistema financeiro. Para quem não se lembra, foram os excessos dos corsários a causa para a crise que ainda continua no mundo rico.
O pretexto é o de que mexer com os bancos prejudicaria a reativação econômica, porque levaria a menor apetite para investir.
Mas, contraditoriamente, o G20 aplaudiu as medidas que países europeus vêm adotando para reequilibrar as contas públicas, o que, fatalmente, afetará a recuperação. Corte de gastos e aumento de impostos sempre reduzem a atividade econômica, como é óbvio.
A contradição maior, no entanto, se dá pelo fato de que, na hora da crise, os países do G20 soltaram dinheiro a rodo para o setor privado, a custo quase sempre zero, para evitar o colapso. Agora, o setor financeiro cobra a juros de usura o equilíbrio das contas públicas, desequilibradas para impedir que a banca quebrasse.
Ninguém fala em taxar pesadamente os lucros fenomenais dos que causaram a crise: a JP Morgan, por exemplo, lucrou, no primeiro trimestre, R$ 9 milhões por hora, o que significa que um trabalhador brasileiro de salário mínimo levaria cerca de 1.500 anos para receber o que um grupo como esse ganha em uma hora.
Ah, nós, jornalistas, estamos coonestando pelo silêncio essa aberração. Como escreveu para "El País" Enrique Gil Calvo, professor de sociologia da Universidade Complutense de Madri, a mídia trata como "natural um processo tão desequilibrado e injusto, fazendo-o parece lógico e necessário".
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