A era do pneu 'verde'
O GLOBO - 05/04/2010
No mercado automobilístico brasileiro, o quinto maior do mundo, o pneu “verde” ainda responde por apenas 5% do segmento. Na Europa, onde é comercializado há mais de 15 anos, representa 60%. A experiência europeia nos indica que a adesão do consumidor foi influenciada por incentivos governamentais.
Por questões econômicas e políticas, já que os europeus não produzem petróleo, a não ser no Norte da Inglaterra, os governos criaram políticas para reduzir a dependência desta fonte de energia. A redução dos impostos dos automóveis que consomem menos combustível foi uma das alternativas que ganharam força por meio das leis.
O cenário no Brasil deve mudar com a adesão cada vez maior das montadoras ao Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular. Em 2009, 31 modelos aderiram ao selo. Este número mais que dobrou em 2010, ano em que as montadoras inscreveram 67.
Independentemente das polêmicas surgidas em relação à não obrigatoriedade do programa e a uma falta de mensuração do CO2 emitido, a Etiqueta Nacional de Energia para Veículos tem valor na hora de orientar o consumidor, assim como aconteceu com o Selo Procel, instituído em 1993 para os eletrodomésticos.
Naquela época, alguns modelos de refrigeradores desapareceram do mercado, quando o consumidor percebeu que eram ineficientes.
O mesmo poderá acontecer com os automóveis, na medida em que o despertar dos consumidores para medidas eficientes para preservar o meio ambiente é recente. O poder de decisão do consumidor é fundamental para regular o mercado. Quanto mais a sociedade estiver atenta à contribuição do automóvel ao meio ambiente na hora da compra, a cadeia automotiva será envolvida numa corrida tecnológica rumo ao veículo mais eficiente e, principalmente, menos poluente.
Neste contexto, é importante que as empresas e o governo se inspirem no modelo de metas europeu, mais completo.
No segmento de pneumáticos, as metas na Europa abrangem outras características além das ambientais, como a segurança — analisa a frenagem em piso molhado, por exemplo.
Além disso, também hoje o consumidor brasileiro está mais sensibilizado frente a interferência humana no meio ambiente, porque as pessoas estão percebendo todos os dias os efeitos das mudanças climáticas: as inundações são sempre as maiores das últimas décadas, a temperatura está mais alta, furacões surgem onde nunca ocorriam.
A eficiência energética do veículo tem de ser avaliada em cada item. Se analisarmos somente a contribuição do pneu para o meio ambiente, a emissão de CO2 na atmosfera seria praticamente 10 gramas menor por quilômetro rodado caso o seu veículo possuísse o chamado pneu verde.
Estima-se que, no Brasil, a frota é composta por 24 milhões de veículos, que rodam, em média, mais de 13 mil quilômetros por ano. Isto significa que, se toda a frota passasse a utilizar pneus verdes, cada carro deixaria de jogar aproximadamente 132 quilos de CO2 na atmosfera e a frota toda, em torno de três milhões de toneladas. Estes três milhões de toneladas correspondem a mais ou menos 530 estádios do Maracanã por ano. Esta redução, junto a uma série de outras ações, pode ajudar a diminuir a poluição e a melhorar a qualidade do ar que respiramos.
A diferença entre um pneu comum e um ecológico reside nos compostos. A preocupação, neste caso, é fazer com que o pneu ofereça menor resistência para rodar sem, entretanto, perder o atrito com o solo, pois isto é imprescindível para garantir uma boa frenagem, assim como aderência nas curvas. Isto se obtém por meio de adição de sílica e silano aos compostos, conferindo uma cadeia polimérica mais longa e resistente a deformações. Por isso, é difícil reconhecer um pneu mais econômico somente ao olhá-lo, pois externamente a aparência é igual à dos demais.
Há uma década foi lançado o primeiro pneu verde no País, mas aquele cenário era completamente diferente do atual. Com o advento da etiqueta ambiental e, principalmente, com a conscientização do consumidor, as condições para o desenvolvimento do mercado para o pneu “verde” no Brasil já existem. Se hoje suas vendas representam 5% do total, poderão atingir 40% já em 2012. Então, com aumento da escala de produção, o custo, que atualmente é 15% maior, deverá cair.
ROBERTO FALKENSTEIN é engenheiro mecânico e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Pirelli na América Latina.
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