Da carochinha
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 23/04/10
O futebol, como todo território ocupado por paixões e ódios extremos, é frequentemente invadido por histórias mais nascidas da fantasia do que dos fatos.
Contaram-me outro dia uma dessas histórias. Mais ou menos o seguinte: existiriam jogadores capazes de simular contusões ou a sua gravidade unicamente para evitar os exames antidoping.
Não porque se dopassem. Estariam simplesmente fugindo da possibilidade de que os testes de urina denunciassem o consumo de drogas pesadas.
Principalmente, cocaína.
Uma história da carochinha, obviamente.
A ser verdadeira, duas premissas seriam necessárias. Primeiro, que atletas profissionais, ídolos das torcidas, não tivessem grau de maturidade suficiente para se arriscar a jogar suas carreiras no lixo, além de transformar em desprezo o amor das torcidas, por cederem ao vício proibido. E que não é proibido à toa, diga-se de passagem.
Depois, seria também necessário que os dirigentes e técnicos dos clubes fizessem de conta que os atletas realmente estariam mais machucados do que alegavam.
Porque uma farsa dessas, especialmente se repetida muitas vezes, poderia não chegar ao torcedor — mas no comando dos times de futebol pode existir de tudo. Menos gente pouco esperta.
A maioria dos jogadores de futebol tem origem humilde. Da humildade para a fama e o muito dinheiro no bolso produz, obviamente, perigosas tentações.
Mas não faltam exemplos de profissionais que souberam e sabem administrar os produtos e as consequências do sucesso.
Não é inconcebível que existam os que não sabem. Mas, caso existam, não é imaginável que dirigentes de clubes, mesmo não tendo a experiência, aceitemos que traumática, de trocar a favela pelo apartamento à beira-mar, não estejam alertados para as armadilhas no caminho dos meninos pobres transformados, quase que de uma hora para outra, em rapazes com carrão na porta e muito dinheiro no bolso.
Sou do tempo em que o vício à disposição dos craques era a bebida. Tanto quanto as drogas, ela acabava com a carreira de suas vítimas. Mas, ao contrário, por exemplo, da cocaína, a cachaça tinha sintomas visíveis demais: e a decadência física era mais rápida. O pó não é menos letal, mas seus efeitos aparentemente são menos visíveis. O que, no fim das contas, é uma pena: as vítimas do vício enganam-se com mais facilidade. E quem aceita ser enganado por elas pode fingir que não há nada errado com o craque Fulano. Pena que se machuque tanto.
Contaram-me outro dia uma dessas histórias. Mais ou menos o seguinte: existiriam jogadores capazes de simular contusões ou a sua gravidade unicamente para evitar os exames antidoping.
Não porque se dopassem. Estariam simplesmente fugindo da possibilidade de que os testes de urina denunciassem o consumo de drogas pesadas.
Principalmente, cocaína.
Uma história da carochinha, obviamente.
A ser verdadeira, duas premissas seriam necessárias. Primeiro, que atletas profissionais, ídolos das torcidas, não tivessem grau de maturidade suficiente para se arriscar a jogar suas carreiras no lixo, além de transformar em desprezo o amor das torcidas, por cederem ao vício proibido. E que não é proibido à toa, diga-se de passagem.
Depois, seria também necessário que os dirigentes e técnicos dos clubes fizessem de conta que os atletas realmente estariam mais machucados do que alegavam.
Porque uma farsa dessas, especialmente se repetida muitas vezes, poderia não chegar ao torcedor — mas no comando dos times de futebol pode existir de tudo. Menos gente pouco esperta.
A maioria dos jogadores de futebol tem origem humilde. Da humildade para a fama e o muito dinheiro no bolso produz, obviamente, perigosas tentações.
Mas não faltam exemplos de profissionais que souberam e sabem administrar os produtos e as consequências do sucesso.
Não é inconcebível que existam os que não sabem. Mas, caso existam, não é imaginável que dirigentes de clubes, mesmo não tendo a experiência, aceitemos que traumática, de trocar a favela pelo apartamento à beira-mar, não estejam alertados para as armadilhas no caminho dos meninos pobres transformados, quase que de uma hora para outra, em rapazes com carrão na porta e muito dinheiro no bolso.
Sou do tempo em que o vício à disposição dos craques era a bebida. Tanto quanto as drogas, ela acabava com a carreira de suas vítimas. Mas, ao contrário, por exemplo, da cocaína, a cachaça tinha sintomas visíveis demais: e a decadência física era mais rápida. O pó não é menos letal, mas seus efeitos aparentemente são menos visíveis. O que, no fim das contas, é uma pena: as vítimas do vício enganam-se com mais facilidade. E quem aceita ser enganado por elas pode fingir que não há nada errado com o craque Fulano. Pena que se machuque tanto.
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