De paz e amor
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/04/10
A Dilma que vai surgir das enganações marqueteiras é um mistério; Serra já arquitetou o Serrinha Paz e Amor
O melhor a esperar da campanha que em breve começa, não mais de fato, mas enfim de direito, são duas revelações: Dilma Rousseff tal qual é e José Serra tal qual não é.
Ainda é difícil saber qual das duas, eficácia eleitoral à parte, será mais divertida aos nossos olhos e ouvidos de espectadores compulsórios. Na longa primeira etapa de sua campanha, Dilma teve a sua inexperiência de palanque remediada pelo rumo que a simples presença de Lula já insinuava, para os discursos. E, pode-se supor, havia as sugestões sopradas mesmo. Mas já vimos o bastante para a certeza de que Dilma não tem a vocação do que outrora se chamaria de mitingueira, de fazer "meeting", aquele tipo a quem bastava um caixotinho para atrair um comício - Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Vladimir Palmeira (vivo e esgotado), o depois psicanalista Hélio Pellegrino, uma espécie extinta de oradores.
A Dilma que vai surgir das enganações marqueteiras ainda é um mistério, e, pelo que se vê, terá de ser construída de ponta a ponta. Até agora candidata sempre maquiada como se fosse para o casamento de um herdeiro paulista, até o tipo físico está por ser redesenhado. E o vocabulário também. E o gestual, idem. E ainda a medida da simpatia, para não parecer apenas obrigatória, nem, como tem sido, negada pelo excesso.
José Serra já se mostra como parte de um jogo de inversões. A inflexão de suas falas públicas não é mais a mesma, o tom e o volume da voz não são mais os mesmos. Vem aí, em vez do candidato que em 2006 explorou os temores do eleitorado, o Serrinha Paz e Amor. Produto direto da derrota didática para Lulinha Paz e Amor. Agora o ex-Lulinha do qual, como sua parte da inversão, prevê-se que se torne o Serra da campanha de 2006, para explorar os temores de extinção dos programas assistenciais, de retrocesso no prestígio internacional do país e de freio na política econômica de crescimento.
Serra já arquitetou o Serrinha Paz e Amor para conhecimento geral. Nas palavras finais de governante, citou cada um dos defeitos que lhe são reconhecidos ou atribuídos e se disse portador das características exatamente opostas, citando cada uma dessas qualidades que, se não existirem no Serra, devem compor o Serrinha Paz e Amor. Mais do que o manequim de um candidato à Presidência, surgiu ali um candidato a santo.
Mas a transubstanciação - capaz, nos casos de ambos, de causar inveja nos mais puros brâmanes - será tão difícil para Serra quanto foi fácil para Lula. Falta-lhe o traquejo do sindicalista íntimo dos truques espertos para tirar vantagem. E, em cima disso, virão as provocações do ex-Lulinha posto de volta na sua personalidade, desde 2003. Às quais o Serra mais conhecido não tende a suportar.
Não se sabe o que será da candidatura Ciro Gomes. Cabe então a Marina Silva a solidão de depositária, na campanha que se vislumbra, da sinceridade pessoal e política, e da autenticidade de propósitos. Inclusive os de paz e amor. Qualidades pessoais e políticas que valem cada vez menos nas disputas de sucessão presidencial.
Ainda é difícil saber qual das duas, eficácia eleitoral à parte, será mais divertida aos nossos olhos e ouvidos de espectadores compulsórios. Na longa primeira etapa de sua campanha, Dilma teve a sua inexperiência de palanque remediada pelo rumo que a simples presença de Lula já insinuava, para os discursos. E, pode-se supor, havia as sugestões sopradas mesmo. Mas já vimos o bastante para a certeza de que Dilma não tem a vocação do que outrora se chamaria de mitingueira, de fazer "meeting", aquele tipo a quem bastava um caixotinho para atrair um comício - Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Vladimir Palmeira (vivo e esgotado), o depois psicanalista Hélio Pellegrino, uma espécie extinta de oradores.
A Dilma que vai surgir das enganações marqueteiras ainda é um mistério, e, pelo que se vê, terá de ser construída de ponta a ponta. Até agora candidata sempre maquiada como se fosse para o casamento de um herdeiro paulista, até o tipo físico está por ser redesenhado. E o vocabulário também. E o gestual, idem. E ainda a medida da simpatia, para não parecer apenas obrigatória, nem, como tem sido, negada pelo excesso.
José Serra já se mostra como parte de um jogo de inversões. A inflexão de suas falas públicas não é mais a mesma, o tom e o volume da voz não são mais os mesmos. Vem aí, em vez do candidato que em 2006 explorou os temores do eleitorado, o Serrinha Paz e Amor. Produto direto da derrota didática para Lulinha Paz e Amor. Agora o ex-Lulinha do qual, como sua parte da inversão, prevê-se que se torne o Serra da campanha de 2006, para explorar os temores de extinção dos programas assistenciais, de retrocesso no prestígio internacional do país e de freio na política econômica de crescimento.
Serra já arquitetou o Serrinha Paz e Amor para conhecimento geral. Nas palavras finais de governante, citou cada um dos defeitos que lhe são reconhecidos ou atribuídos e se disse portador das características exatamente opostas, citando cada uma dessas qualidades que, se não existirem no Serra, devem compor o Serrinha Paz e Amor. Mais do que o manequim de um candidato à Presidência, surgiu ali um candidato a santo.
Mas a transubstanciação - capaz, nos casos de ambos, de causar inveja nos mais puros brâmanes - será tão difícil para Serra quanto foi fácil para Lula. Falta-lhe o traquejo do sindicalista íntimo dos truques espertos para tirar vantagem. E, em cima disso, virão as provocações do ex-Lulinha posto de volta na sua personalidade, desde 2003. Às quais o Serra mais conhecido não tende a suportar.
Não se sabe o que será da candidatura Ciro Gomes. Cabe então a Marina Silva a solidão de depositária, na campanha que se vislumbra, da sinceridade pessoal e política, e da autenticidade de propósitos. Inclusive os de paz e amor. Qualidades pessoais e políticas que valem cada vez menos nas disputas de sucessão presidencial.
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