Brasil à deriva no apoio ao Irã
O GLOBO - 09/04/2010
O presidente Barack Obama recepcionará líderes de 47 países na próxima semana, em Washington, para uma reunião sobre segurança nuclear, com três trunfos na mão: a revisão da política nuclear americana, há pouco anunciada, pela qual os Estados Unidos se comprometem a não usar armas atômicas contra países que não as possuam, exceto estados sem lei, como Irã e Coreia do Norte; a assinatura com a Rússia ontem, em Praga, de um pacto para redução em um terço dos arsenais nucleares, apontando para uma nova era de cooperação entre os grandes ex-inimigos da Guerra Fria (a Rússia é a sucessora legal da União Soviética); e, finalmente, a concordância da China em conversar sobre as novas sanções que os EUA e o Ocidente desejam aplicar ao Irã, pela falta de transparência de seu programa nuclear, considerado uma ameaça em escala mundial.
A revisão da política americana feita pelo governo Obama reflete preocupação, não com outras potências nucleares, como Rússia e China, mas com a proliferação: se estados sem lei, no sentido de não confiáveis, como Irã e Coreia do Norte, obtiverem armas atômicas, ainda que rudimentares, muito mais provável se torna a hipótese de que elas caiam em poder de redes terroristas, como a al-Qaeda. Estaria criado o pesadelo do terror nuclear.
Daí a busca de consenso para a imposição de sanções destinadas a interromper o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, uma vez que Teerã rejeita submetê-lo à Agência Internacional de Energia Atômica (em relação à Coreia do Norte, há um trabalho permanente que envolve os EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).
Nesse contexto, quanto mais cresce a compreensão de que é preciso evitar que o Irã — governado por uma ditadura militar e teocrática com objetivos expansionistas — desenvolva armas nucleares, mais delicada se torna a posição do Brasil. O governo Lula adota uma política externa de protagonismo terceiromundista que, para seus artífices, o “Itamaraty do B”, é a melhor forma de defender os interesses do país. Ela se pauta, estranhamente, pelo apoio a ditaduras — como as de Cuba, Venezuela e Irã — colocando o Brasil em rota de colisão com os EUA e o mundo. O argumento do presidente Lula é que “o Brasil conversa com todos”. O do chanceler Celso Amorim é que não se deve pressionar o Irã porque isso poderá levar a maior radicalização de sua liderança. Imaginese este argumento aplicado a Hitler.
Os EUA aceleram as gestões para que o Conselho de Segurança da ONU aprove o quanto antes novas sanções ao Irã. A China, o maior aliado iraniano, aceita conversar sobre a hipótese, embora não se possa dizer que vá concordar com ela. Sobra o Brasil, que, claro, também aceita conversar, mas insiste em dar o benefício da dúvida ao Irã. Se não houver uma evolução da posição brasileira, o presidente Lula chegará a Teerã em maio, retribuindo visita de Ahmadinejad a Brasília, em novembro, num um dilema infernal: se o Brasil votar na ONU a favor das sanções, desembarcará como persona non grata. Se recorrer à abstenção, desagradará tanto a Ahmadinejad quanto ao Primeiro Mundo. E se, num ato delirante, votar contra as sanções, a diplomacia brasileira terá ficado refém de Teerã.
País tem de ser realista diante de Teerã, para não ser apanhado no contrapé
A revisão da política americana feita pelo governo Obama reflete preocupação, não com outras potências nucleares, como Rússia e China, mas com a proliferação: se estados sem lei, no sentido de não confiáveis, como Irã e Coreia do Norte, obtiverem armas atômicas, ainda que rudimentares, muito mais provável se torna a hipótese de que elas caiam em poder de redes terroristas, como a al-Qaeda. Estaria criado o pesadelo do terror nuclear.
Daí a busca de consenso para a imposição de sanções destinadas a interromper o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, uma vez que Teerã rejeita submetê-lo à Agência Internacional de Energia Atômica (em relação à Coreia do Norte, há um trabalho permanente que envolve os EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).
Nesse contexto, quanto mais cresce a compreensão de que é preciso evitar que o Irã — governado por uma ditadura militar e teocrática com objetivos expansionistas — desenvolva armas nucleares, mais delicada se torna a posição do Brasil. O governo Lula adota uma política externa de protagonismo terceiromundista que, para seus artífices, o “Itamaraty do B”, é a melhor forma de defender os interesses do país. Ela se pauta, estranhamente, pelo apoio a ditaduras — como as de Cuba, Venezuela e Irã — colocando o Brasil em rota de colisão com os EUA e o mundo. O argumento do presidente Lula é que “o Brasil conversa com todos”. O do chanceler Celso Amorim é que não se deve pressionar o Irã porque isso poderá levar a maior radicalização de sua liderança. Imaginese este argumento aplicado a Hitler.
Os EUA aceleram as gestões para que o Conselho de Segurança da ONU aprove o quanto antes novas sanções ao Irã. A China, o maior aliado iraniano, aceita conversar sobre a hipótese, embora não se possa dizer que vá concordar com ela. Sobra o Brasil, que, claro, também aceita conversar, mas insiste em dar o benefício da dúvida ao Irã. Se não houver uma evolução da posição brasileira, o presidente Lula chegará a Teerã em maio, retribuindo visita de Ahmadinejad a Brasília, em novembro, num um dilema infernal: se o Brasil votar na ONU a favor das sanções, desembarcará como persona non grata. Se recorrer à abstenção, desagradará tanto a Ahmadinejad quanto ao Primeiro Mundo. E se, num ato delirante, votar contra as sanções, a diplomacia brasileira terá ficado refém de Teerã.
País tem de ser realista diante de Teerã, para não ser apanhado no contrapé
Nenhum comentário:
Postar um comentário