A guerra que o Brasil deve travar
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/04/10
SÃO PAULO - Se o Brasil quer de fato tornar-se ator relevante no cenário global, tem a obrigação de envolver-se já na guerra que verdadeiramente moldará o futuro imediato do planeta, que não é a do Irã nem a do Oriente Médio. É a guerra governo x mercados.
O que a tragédia da Grécia põe em dramática evidência é a necessidade de deixar perfeitamente claro quem manda na economia. Se os governos, com a legitimidade que lhes dá a democracia, a melhor forma de organização até agora inventada, ou se os mercados, com a legitimidade que lhes dá o fato de serem a menos imperfeita forma de alocação de recursos, desde que -e a ressalva é absolutamente essencial- regulados pelo poder público.
Deixados soltos, os mercados tornam-se inexoravelmente "corsários fraudulentos", expressão ouvida anteontem no Senado dos EUA durante investigação sobre a Goldman Sachs, e que o leitor da Folha leu antes, incontáveis vezes, neste espaço ou no caderno Mundo.
Para essa guerra, há até um corpo de combate estabelecido, o G20, do qual o Brasil é parte -e parte relevante, ao contrário do que acontece em outros combates, em que implora por uma participação.
No G20, o Brasil, com outros emergentes, conseguiu a perspectiva de aumentar o peso de sua voz e de seus votos no FMI e no Banco Mundial. Mas, agora, o que fazer do FMI e do próprio G20?
Deveriam transformar-se em força de intervenção rápida, no caso grego, por exemplo, assim como o foram quando o setor privado começou a derreter na crise. Puseram uma catarata de dinheiro para amortecer a queda e salvar bancos, entre outras empresas.
Nada contra. Mas não é ainda mais relevante salvar países, quando acossados pelos "corsários fraudulentos", e, tão logo seja possível, subjugar as naus piratas antes que completem o saqueio?
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