Ciro e o rebuliço artificial
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/04/10
SÃO PAULO - Só pode ser pela fraqueza até agora do debate eleitoral que causou "frisson" jornalístico a transformação de Ciro Gomes em maionese, conforme a perfeita análise de Vera Magalhães, editora de Brasil desta Folha.
O que quer que Ciro diga ou faça não pode ser tomado pelo seu valor de face. Primeiro, porque tem compulsão pela mentira tola.
Lembra-se da campanha de 2002, quando disse que havia estudado a vida toda em escolas públicas, e era mentira? Segundo, porque já vinha se transformando em maionese nas pesquisas, o que dá pouco peso ao que diga ou faça, ainda que seja verdade.
Lula se acha todo-poderoso?
Sim, se acha. Mas já se achava quando mandou Ciro transferir seu título eleitoral para São Paulo, na perspectiva de ser candidato ao governo, e Ciro obedeceu mansamente. Só agora se lembrou de avisar que a candidatura seria um desrespeito a São Paulo (nem acho que seria, mas ou já era antes ou não pode ser só agora).
Dilma é menos preparada que Serra? Talvez sim, talvez não. Só a prova da maionese, digo do pudim, é que o demonstrará (alusão, para quem não sabe, a um velho ditado inglês segundo o qual só pode se saber se o pudim é bom ou ruim depois de prová-lo).
Mas qual é a autoridade de Ciro para decretar quem é melhor que quem? Na campanha de 2002, Ciro dizia que um eventual governo Lula seria uma aventura. Lula ganhou, e Ciro embarcou na "aventura", transformando-se em ministro.
Nada impede, portanto, que, amanhã ou depois, Ciro Gomes aceite um convite para ser ministro de uma presidenta que ele considera menos preparada. Enfim, o impacto que a desistência de Ciro e o eventual uso na campanha de seu conhecido destempero terão a consistência e o prazo de validade de uma maionese.
Ou seja, um dia ou dois.
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