Rio estilo Projac
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10
RIO DE JANEIRO - Em "Casablanca", filme de 1942, em plena Segunda Guerra e com a Alemanha ainda dando de goleada, há um diálogo entre Rick, o americano pragmático e frio vivido por Humphrey Bogart, e o major Strasser, oficial nazista interpretado pelo ator alemão Conrad Veidt, aliás ardente antinazista na vida real.
Strasser sugere para Rick que os alemães não descartam uma invasão a Nova York. Rick ri e adverte: "Há certas zonas de Nova York que eu não os aconselharia a invadir...". Não diz quais são, nem precisa. Queria dizer que nem as divisões Panzer de Hitler teriam vez em algumas quebradas do Bronx contra as gangues locais.
Bem, esta é uma realidade mais ou menos corrente nas grandes cidades. Em qualquer uma haverá regiões em que pessoas de fora não deveriam se aventurar. E não precisam ser "ruas perversas", como as do Jardim Ângela, em São Paulo, ou as da periferia de Recife, Vitória ou Curitiba. Na Nova York de hoje, experimente, por exemplo, entrar no Central Park à noite e sobreviver até de manhã.
Donde o presidente Lula foi apenas rebarbativo ao dizer aos congressistas do Fórum Urbano Mundial, ora sendo realizado na zona portuária, que eles poderiam passear pelo Rio à vontade, desde que não "se embrenhassem por qualquer lugar". O que ele quis dizer era que deveriam abster-se de subir à Maré ou ao Alemão fora de horas, exceto se acompanhados por Adriano ou Vagner Love.
Na verdade, Lula não conhece o Rio, exceto como sindicalista ou político. Em tempos idos, nunca tomou café em pé na rua da Quitanda, nunca foi à praia em Copacabana, nunca viu o Flamengo no Maracanã. Hoje voa de helicóptero pela cidade, sobe e desce favelas e, cercado por aspones, se mistura ao "povo". Mas é como se fosse um Rio cenográfico, armado pelo Projac.
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