O mundo maravilhoso da "Wallpaper"
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10
O editor da revista diz que "todos os setores da sociedade" circulampelo shopping Iguatemi
DEVERIA conhecer a "Wallpaper", que é descrita como "uma revista internacional de design e lifestyle para quem gosta de conhecer tendências modernas e globais". Mas é mais forte do que eu. Toda vez em que tentei folhear um exemplar, minha cabeça foi inclinando, meus olhos foram fechando e, depois de cinco minutos, eu já estava roncando alto e babando.
Longe de mim criticar a "Wallpaper", a jeca-tatu sou eu. Livros e revistas de arte, de moda e de viagem têm para mim o mesmo significado do que a vitória do time local em jogo no estádio de Ulan Bator, na Mongólia. Ou seja, nenhum.
Talvez, por isso, não sou a pessoa mais indicada para comentar a entrevista concedida à coluna Mônica Bergamo pelo editor da "Wallpaper", Tony Chambers, que está em São Paulo preparando uma edição especial dedicada ao Brasil. Acontece que detectei pelas afirmações do sr. Chambers que, por ora, ele anda mais perdido do que pum em bombachas. E não posso, patriota que sou, deixá-lo ir embora com uma visão equivocada do país.
A gente sabe como funciona essa coisa de síndrome de vira-lata. Bastou um estrangeiro baixar entre nós, que logo o levamos para passar o fim de semana na praia, oferecemos jantar e apresentamos nossa irmã para ele.
No caso do sr. Chambers não é diferente. Com o agravante de que ele está sendo ciceroneado em São Paulo por uma gente que só não tatua a palavra "lifestyle" na testa por medo de trocar o "y" pelo "i".
E que o deixou empolgado a ponto de ele afirmar na entrevista que "todos os setores da sociedade" estão representados no público do shopping Iguatemi.
Também procuro não ter muita intimidade com pobre, esse negócio de andar de ônibus e fazer fila pega feito praga. Entendo que o sr. Chambers ache que a gente sem estilo que ele viu circulando pelo Iguatemi pareça pobre. Mas alguém deveria informá-lo de que aquele desgosto ambulante chama-se paulistano de classe média alta. É mesmo uma turma que não transpira "lifestyle", mas convém que o sr. Chambers saiba que os impostos dos "pobres" que ele viu sustentam meio Brasil.
O editor da "Wallpaper" se diz maravilhado pela água de coco. "Todo mundo está falando sobre ela". É mesmo? Todo mundo? Bem, então é bom que digam que o coco do qual ela é extraída é importado, na maior parte, do Sri Lanka. Só me falta sair na revista "Wallpaper" que os cocos vêm da Bahia e são tirados do pé por figuras saídas de retratos do Carybé.
A mais brasuca das partes pudendas terá grande destaque na edição especial da "Wallpaper" que circula em junho: "Vamos mostrar bundas bonitas e quão importantes elas são para o mundo", diz Chambers.
Como a fase anal vai dos zero aos três anos, começo a entender melhor porque nunca gastei R$ 74,80 para comprar um exemplar da "Wallpaper".
Para falar a verdade, até gastaria. Só para ver o que sobra de informação, emoção e substância numa revista cuja "filosofia" o sr. Chambers define assim: "Se deixamos coisas de fora, é porque não gostamos delas". Mais ou menos o mesmo motivo pelo qual mendigos não frequentam o shopping Iguatemi.
Longe de mim criticar a "Wallpaper", a jeca-tatu sou eu. Livros e revistas de arte, de moda e de viagem têm para mim o mesmo significado do que a vitória do time local em jogo no estádio de Ulan Bator, na Mongólia. Ou seja, nenhum.
Talvez, por isso, não sou a pessoa mais indicada para comentar a entrevista concedida à coluna Mônica Bergamo pelo editor da "Wallpaper", Tony Chambers, que está em São Paulo preparando uma edição especial dedicada ao Brasil. Acontece que detectei pelas afirmações do sr. Chambers que, por ora, ele anda mais perdido do que pum em bombachas. E não posso, patriota que sou, deixá-lo ir embora com uma visão equivocada do país.
A gente sabe como funciona essa coisa de síndrome de vira-lata. Bastou um estrangeiro baixar entre nós, que logo o levamos para passar o fim de semana na praia, oferecemos jantar e apresentamos nossa irmã para ele.
No caso do sr. Chambers não é diferente. Com o agravante de que ele está sendo ciceroneado em São Paulo por uma gente que só não tatua a palavra "lifestyle" na testa por medo de trocar o "y" pelo "i".
E que o deixou empolgado a ponto de ele afirmar na entrevista que "todos os setores da sociedade" estão representados no público do shopping Iguatemi.
Também procuro não ter muita intimidade com pobre, esse negócio de andar de ônibus e fazer fila pega feito praga. Entendo que o sr. Chambers ache que a gente sem estilo que ele viu circulando pelo Iguatemi pareça pobre. Mas alguém deveria informá-lo de que aquele desgosto ambulante chama-se paulistano de classe média alta. É mesmo uma turma que não transpira "lifestyle", mas convém que o sr. Chambers saiba que os impostos dos "pobres" que ele viu sustentam meio Brasil.
O editor da "Wallpaper" se diz maravilhado pela água de coco. "Todo mundo está falando sobre ela". É mesmo? Todo mundo? Bem, então é bom que digam que o coco do qual ela é extraída é importado, na maior parte, do Sri Lanka. Só me falta sair na revista "Wallpaper" que os cocos vêm da Bahia e são tirados do pé por figuras saídas de retratos do Carybé.
A mais brasuca das partes pudendas terá grande destaque na edição especial da "Wallpaper" que circula em junho: "Vamos mostrar bundas bonitas e quão importantes elas são para o mundo", diz Chambers.
Como a fase anal vai dos zero aos três anos, começo a entender melhor porque nunca gastei R$ 74,80 para comprar um exemplar da "Wallpaper".
Para falar a verdade, até gastaria. Só para ver o que sobra de informação, emoção e substância numa revista cuja "filosofia" o sr. Chambers define assim: "Se deixamos coisas de fora, é porque não gostamos delas". Mais ou menos o mesmo motivo pelo qual mendigos não frequentam o shopping Iguatemi.
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