O totem da impunidade
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/03/10
BRASÍLIA - Justiça se faça aos maus políticos brasileiros: eles não são nada modestos. Afora o Severino Cavalcanti, escorraçado da presidência da Câmara porque recebia propina de, sei lá, uns R$ 2 mil por mês do restaurante, os encrencados não querem saber de merreca.
Vejamos o deputado, ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf. Numa única conta no exterior, no Safra National Bank da 5ª Avenida de Nova York, ele tinha US$ 11,7 milhões em depósitos de 1998, justamente, ora, ora, quando era prefeito de São Paulo e tocava a obra da então avenida Água Espraiada. Vejamos agora o empresário Fernando Sarney, que vem de uma das mais conhecidas famílias políticas brasileiras. Só numa das suas aparentemente muitas contas no exterior, a da plácida e liberal Suíça, ele tinha US$ 13 milhões.
Maluf vive às voltas com a Justiça e as suspeitas no Brasil há três décadas, e não acontece nada. Faltou combinar com a Interpol, que o colocou na sua "lista vermelha" de procurados mundo afora. Significa que Maluf pode circular à vontade e em grande estilo no Brasil, mas não pode botar os pés em 181 outros países. O risco é ir em cana.
Os Sarney mandam no Maranhão lá se vão uns 50 anos. O resultado é o pior IDH e os piores desempenhos de alunos em matemática e em português do país, mas Lula se atirou de cabeça na operação para manter o patriarca na presidência do Senado. Faltou combinar com a PF, a Justiça e o governo suíço -que bloqueou a conta milionária e ilegal justamente quando ela tentava voar sorrateiramente para o paraíso fiscal de Liechtenstein.
Você imagina o que sejam US$ 11,7 milhões ou US$ 13 milhões? Seriam fundamentais para milhares de vidas brasileiras, mas uma pessoa ou uma família não conseguem sequer gastar em gerações. São como um totem, o totem dinheiro, com tudo o que atrai de poder, de endeusamento.
Ou seja: um desvio patológico alimentado pela impunidade.
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