Não há encontro sobre liberdade de imprensa e respeito a direitos civis, de modo amplo, na América Latina, em que não sejam prestados depoimentos preocupantes.
Foi assim em novembro, no Congresso anual da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Buenos Aires, e, segunda-feira, em São Paulo, no 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium.
Como se podia esperar, representantes de Venezuela e Equador — polo irradiador do bolivarianismo e um dos mais fiéis discípulos do populismo autoritário venezuelano — fizeram os relatos mais sombrios. Marcel Gravier, dono da RCTV, cujo sinal aberto foi cortado pelo caudilho Hugo Chávez e tenta sobreviver como emissora a cabo, reclamou do silêncio e cumplicidade das democracias ibero-americanas diante do sufocamento do que resta de liberdades no seu país.
Às explicações sobre simpatias ideológicas, Gravier acrescentou outra: “Os países obtiveram muita ajuda da Venezuela e encontraram em Chávez uma fonte de negócios muito lucrativa. Por isso, fazem vistas grossas.” Para reforçar a análise de Marcel Gravier, lembre-se que a Argentina dos Kirchner, pária no mercado financeiro mundial, devido ao calote na dívida externa, só sai de situações de sufoco porque Chávez aceita comprar títulos emitidos pelo país. O jornalista Carlos Vera, do Equador, por sua vez, confirmou que Rafael Correa, no que se refere ao relacionamento com a imprensa e à liberdade de expressão, é uma réplica de Chávez.
O Brasil, neste contexto, se destaca no continente com uma situação relativa melhor, embora persista há 215 dias uma censura prévia esdrúxula decretada na Justiça contra o jornal “O Estado de S. Paulo”, proibido de divulgar informações sobre uma operação da PF na qual um dos alvos é o clã Sarney.
Presente ao Fórum, o ministro Hélio Costa, das Comunicações, deixou clara sua discordância com dispositivos do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, do seu governo, propostos para subjugar a imprensa.
Também no encontro, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), exministro de Lula, cotado para assumir cargo de primeira linha na campanha de Dilma Rousseff, concordou com Hélio Costa e defendeu a necessidade de os governos contarem com a ajuda de uma “atuação forte e democrática da imprensa”.
Numa região onde se defende a coerção contra a imprensa em nome de um obscuro “controle social” — também rejeitado por Hélio Costa —, tem importância e merece aplausos a posição do ministro e do deputado do PT. Mas como o governo é multifacetado, a guarda não pode ser abaixada na defesa das liberdades.
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