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O que diria Dirceu se o caso da Eletronet fosse parar na polícia
Cientificado das suspeitas e desconfianças geradas pelo noticiário sobre os vínculos negociais que o associam ao empresário Nelson dos Santos, o senhor José Dirceu de Oliveira compareceu a esta repartição policial para declarar que desde dezembro de 2005, quando teve o mandato de deputado cassado por seus pares poucos meses depois de despejado do gabinete de chefe da Casa Civil, vem garantindo a própria subsistência e a de seus dependentes com os proventos auferidos como consultor de empresas; que no mês e ano supracitados constituiu a Consultoria JD; que a referida empresa hoje administra uma carteira de clientes que mantém em sigilo porque assim determina a cláusula de confidencialidade que consta do contrato-padrão, podendo apenas informar que a carteira é de bom tamanho, os clientes pagam em dia e alguns o tratam por Jay Dee; que tem conseguido prosperar como consultor de empresas, e não como facilitador de negócios, como insinua maldosamente a mídia golpista, sem renunciar à militância política e à vida pública, pois desde a infância resolveu colocar-se a serviço da nação; que não vê nada de errado em, num único dia, almoçar com o presidente Lula, reunir-se à tarde com Dilma Rousseff e jantar com um cliente interessado em fechar negócios com o governo porque sempre soube separar as coisas, o que o consegue evitando tanto conversar sobre política com um empresário quanto conversar sobre negócios com um político; que jamais se valeu das informações amealhadas durante a passagem pela chefia da Casa Civil, muito menos dos laços de amizade com companheiros situados nas mais altas instâncias administrativas, para favorecer negócios que interessem aos clientes; que se manteve fiel a esse código de boa conduta ao estabelecer relações profissionais com o empresário Nelson dos Santos, que procurou o depoente em março de 2007 para declarar-se interessado na contratação dos serviços da Consultoria JD, ficando acertado que pagaria R$ 20 mil por mês, pelo prazo de dois anos, pelo fornecimento de análises periódicas sobre o quadro político-econômico nacional e internacional; que não sabe explicar por que o senhor Nelson se dispôs a pagar uma quantia considerável por análises que podem ser lidas de graça no blog do depoente, limitando-se a supor que o contratante quis garantir-se para, eventualmente, encomendar análises sobre temas que raramente são examinados no blog, como, por exemplo, estudos sobre as eleições parlamentares em Botswana; que, por mera coincidência, o depoente, sem saber que o senhor Nelson dos Santos, dois anos antes, pagara R$ 1 para tornar-se o maior acionista privado da Eletronet, escreveu em seu blog, no mesmo mês em que foi contratado, que ”do ponto de vista econômico, faz sentido o governo defender a reincorporação, pela Eletrobrás, dos ativos da Eletronet”; que, como jamais tratou do assunto com o contratante, o contratado achou desnecessário informar que , no momento da publicação do artigo, já prestava serviços ao sócio da Eletronet; que ficou sabendo só mais tarde que o que o senhor Nelson mais deseja na vida é vender ao governo por R$ 200 milhões a parte da Eletronet que lhe pertence, o que permitirá incorporar ao Plano Nacional de Banda Larga a rede de 16 mil quilômetros de fios de fibras ópticas de propriedade da empresa; que, como nunca conversou sobre a Eletronet também com o presidente Lula, o depoente ficou surpreso ao saber que, oito meses depois da assinatura do contrato com o senhor Nelson, o governo resolveu comprar a Eletronet; que voltou a surpreender-se em 22 de janeiro deste ano, quando soube que o Plano Nacional de Banda Larga incluiu a incorporação da empresa do senhor Nelson dos Santos; que só nesse dia soube que a retomada da Eletronet pelo governo, recomendada pelo depoente em vários artigos, sempre desinteressadamente, também fora defendida nos meses anteriores por Dilma Rousseff, que confessou ter enfrentado uma briga tremenda com adversários não-identificados para que o governo recuperasse ”um patrimônio tão importante quanto o pré-sal”; que atribui as frequentes aparições no noticiário político-policial a tramas forjadas pela mídia golpista para prejudicar a candidatura de Dilma Rousseff, da qual o depoente é um dos coordenadores; que, embora nunca tenha sido condenado em última instância, é tratado pela mesma imprensa reacionária como “chefe de uma organização criminosa sofisticada”, expressão que o ex-procurador geral da República Antônio Fernando de Souzando não teria utilizado se não fosse influenciado por reportagens tendenciosas; que, apesar de tudo, continua a guiar-se pelo respeito à ética, à moral e aos bons costumes; que continua confiante no Poder Judiciário em geral, no Supremo Tribunal Federal em particular e no delegado incumbido da condução do presente inquérito.
Confrontado com o que disse e com o que deixou de dizer o depoente, o delegado decerto acharia muito mal contada essa história que juntou o empresário espertalhão e o facilitador de negócios. Dirceu seria convocado para um segundo interrogatório sobre o caso de polícia. E não escaparia da voz de prisão.
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