O ano de 2009 terminou com um balanço pouco animador para a segurança pública.
Não obstante algumas conquistas, a década (20002009) foi a continuidade de um flagelo nessa área. Apesar da diminuição de alguns indicadores de crimes violentos (observados na segunda metade desse período, a partir de 2005), o balanço final mostra que não temos motivos para comemorar. O número de mortes por homicídio no Brasil é vergonhosamente assustador: cerca de 37 mil brasileiros perdem a vida por ano. Em sua maioria jovens, na faixa etária entre 14 e 29 anos, pobres e negros. Este também é o perfil dos novos presidiários que entram em idade cada vez mais tenra em nossas prisões — verdadeiras masmorras que não recuperam nem integram os infratores à sociedade.
Como se não bastasse o número de homicídios — a maioria fruto do adensamento do tráfico de drogas no país, mas uma grande quantidade motivada por questões banais, devido ao número crescente de armas em poder dos cidadãos —, outros indicadores de causas externas de mortalidade nos envergonham: são cerca de 36 mil mortes por ano no trânsito, essa nova máquina de matar que continua gerando novos criminosos sem nenhuma punição.
Isto porque nossa legislação não considera os assassinatos praticados por motoristas drogados, bêbados, irresponsáveis, em veículos sem condições de uso, como crimes dolosos.
A taxa de apuração de crimes pelas polícias é absurda. Homicídio, o crime mais violento, que atenta contra a vida humana, tem taxa de resolutividade média inferior a 10%. Com esse nível de ineficiência, a impunidade campeia. E, como resultado desse descalabro, o cidadão, desconfiado do sistema de proteção e defesa social, deixa de notificar a maioria dos crimes, dificultando ainda mais o planejamento estratégico e a gestão policial.
Soma-se a isso uma polícia violenta e corrupta.
Apesar desses números, podemos ver algumas luzes no final do túnel: primeiramente, o debate sobre segurança pública amplia-se. A sociedade passa a vocalizar uma ação articulada do Estado para essa área; segurança pública como direito de cidadania. Novos atores sociais são chamados a darem sua contribuição. Há uma evidente reação do poder público, com mais investimentos na gestão, integração e na eficiência policial. Programas de prevenção ao crime — destinados a populações em condições de vulnerabilidade social — se institucionalizam.
Os municípios, antes alheios aos problemas da segurança, compreenderam seu papel nessa política e vêm cumprindo a tarefa de ampliar os programas sociais, investindo também na prevenção ao crime, na melhoria da infraestrutura urbana e na vigilância do patrimônio público, desonerando a atividade policial.
O Poder Judiciário, menos encastelado e reativo, começa a experimentar novas metodologias de ação: a justiça restaurativa vai-se ampliando; a aplicação de penas e medidas alternativas ganha força e novos arranjos possibilitam mais celeridade e eficiência. Por fim, os gestores públicos nos níveis municipal, estadual e federal começam a atuar de forma articulada e cooperativa, não somente no combate ao crime, mas nas ações de prevenção e, principalmente, no planejamento estratégico e integrado de ações de médio e longo prazos o que poderá resultar numa melhor eficácia na política pública de segurança.
A década passada foi praticamente perdida para a segurança pública.
Tomara que iniciemos um novo ciclo, no qual os governos e todos os segmentos da sociedade interajam na reversão desse macabro quadro da (in)segurança pública brasileira.
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