Fim da crise pega Brasil sem ter o que dizer
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/01/10
ANÁLISE
O governo brasileiro acertou ao participar ativamente da condenação internacional ao golpe em Honduras. Mas errou ao radicalizar e recusar o resultado da eleição que levou o atual presidente, Porfírio "Pepe" Lobo, ao poder, abrindo as portas para o fim da crise política no país centro-americano.
Resultado: o Brasil se inviabilizou como mediador e ficou fora da competente articulação de um governo de união nacional, liderada por Pepe Lobo e acatada pelos presidentes Manuel Zelaya, deposto, e Roberto Micheletti, que o sucedeu "de facto".
Esse recomeço tem as bênçãos dos Estados Unidos e da maioria da América Central, mas é rejeitado pelos países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), que orbitam em torno da Venezuela. A Honduras de Zelaya era da Alba. Desde ontem, deixou de ser.
O início do novo governo e o aparente fim da crise, portanto, pegam o Brasil sem ter o que fazer e o que dizer.
"Não podemos ser mais realistas do que o rei, vamos dar tempo ao tempo", declarou ontem por telefone o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, jogando qualquer posição oficial brasileira para a reunião do Grupo do Rio, em 25 de fevereiro, no México.
Zelaya foi deposto pela Justiça e expulso pelos militares na madrugada de 28 de junho de 2009, voltou clandestinamente ao país em 21 de setembro e desde então mora, come, dorme e convive com centenas de parentes e aliados na Embaixada do Brasil.
No primeiro momento, a escolha da embaixada foi saudada como demonstração da força crescente do Brasil na política da América Latina. Mas logo ficou claro que isso engessava a atuação brasileira, e sucederam-se os erros.
Em resumo, o Brasil errou ao aceitar uma figura jurídica inexistente internacionalmente -a de "abrigado", em vez de "asilado"; ao permitir que Zelaya usasse a embaixada como palanque para conclamar à rebelião; ao não reconhecer a eleição presidencial (marcada antes do golpe); e, por fim, ao passar ao largo dos esforços de pacificação.
Agora, os mentores da política externa deverão se recolher, para refletir e ver se Pepe Lobo será capaz de consolidar o processo de distensão e de atrair de volta ao país os programas de cooperação e os investimentos internacionais. O golpe é página virada, mas o que vem a seguir ainda é uma incógnita.
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