segunda-feira, dezembro 07, 2009

RUY CASTRO

Há 50 anos

FOLHA DE SÃO PAULO - 07/12/09

RIO DE JANEIRO - Há 50 anos, o Rio estava fazendo a mudança da capital para Brasília. Sim, foi o Rio que fez. E, exceto os funcionários públicos, que odiavam a ideia de se mudar para aquele ermo, o carioca achava que a capital já ia tarde. O Rio se veria livre de seu grosseiro hóspede, o poder central, e conquistaria sua autonomia -como, pela primeira vez em 400 anos, poder eleger seu administrador.
Temia-se que, com a saída do Congresso, dos ministérios e do corpo diplomático, a cidade decairia. Por isso, a mudança previa compensações ao Rio por ter se equipado para ser, durante séculos, capital da colônia, do império e da República, e, de repente, se ver povoado de elefantes federais. Na prática, o Rio foi traído e nunca recebeu essas compensações.
Abandonados por Brasília e tendo de se virar como pudessem, aqui ficaram o Palácio do Itamaraty, a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional, a Rádio Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes, a Escola Nacional de Música, o colégio Pedro 2º, o Observatório Nacional, a Quinta da Boa Vista, o Museu Nacional, o Paço Imperial, o Campo dos Afonsos, a reserva de Guaratiba, o Jardim Botânico, a Floresta da Tijuca, o Corcovado, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar. Tudo federal. E, bem ou mal, tudo sobreviveu, mas não graças à União.
Por sorte, não havia como levar o que era só do Rio e, para o bem do Brasil, existe até hoje: Copacabana, o Arpoador, o Maracanã, o Copacabana Palace, o Teatro Municipal, a Lagoa, o Largo do Boticário, a Candelária, Paquetá, a Ilha Fiscal, a Colombo, o Lamas, o Rio-Minho, a Academia Brasileira de Letras, os Arcos, a Gamboa, a praça Paris, o Saara, o Mirante Dona Marta, a rua Paissandu, o Carnaval, o samba, o choro, a bossa nova, os pés-sujos, o picadinho, o poente do Leblon, a Danuza Leão e muito mais.
E, naturalmente, o Flamengo!

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