Viva a tecnologia!
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/12/09
Hoje, qualquer Xereta de camelô tem zoom e ninguém pensa no assunto. E acabo de saber de uma câmera digital de cinema que pode ir aonde o diretor quiser, sem ajuda de girafa, grua, avião ou o que for, e ainda captura o objeto por qualquer ângulo. Imagino o que Murnau não teria feito com uma dessas.
Em 1941, em Hollywood, a MGM descobriu uma garota chamada Margaret O’Brien. Tinha 4 anos e ainda nem sabia ler, mas era um gênio da expressão facial. O diretor Vincente Minnelli lhe perguntou se conseguia chorar. Ela disse que sim e se ele queria que ela chorasse pelos dois olhos ou por um olho só e, nesse caso, qual deles. Ofereceu-se também para deixar a lágrima equilibrando-se na pálpebra, sem cair. O resultado está no filme “Agora Seremos Felizes”, de 1944, e em muitos outros.
O cinema não produziu novas Margaret O’Briens, e não precisa mais delas. Existe agora um computador que simula para a câmera os movimentos dos músculos e nervos sob a pele. Com isso, qualquer egresso do BBB pode se tornar um novo Spencer Tracy ou Joan Crawford, sem precisar sequer piscar. Viva a tecnologia!
Viva. O problema é que a magia desses efeitos é efêmera. Pouco depois de nos encantarem no cinema, eles começam a aparecer na TV, em qualquer comercial de batata frita ou de remédio para brotoeja.
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