Como nasce um coronel
FOLHA DE SÃO PAULO - 14/12/09
BRASÍLIA - Há um elo entre os escândalos recentes e alguns personagens no Congresso. São os especialistas em minimizar danos de crises produzidas pela impostura própria ou de aliados.
O epítome desse agrupamento atende pelo nome de Antonio Carlos Magalhães Neto, o deputado ACM Neto, do Democratas (ex-PFL, ex-Arena) da Bahia.
Aos 30 anos, neto de ACM (1927-2007) e sobrinho de Luís Eduardo Magalhães (1955-1998), o jovem deputado descende de uma oligarquia de raiz antidemocrática. Honra seu passado como pode. Neto, como é chamado, trabalhou neste ano na operação-abafa de três grandes casos: o do deputado do castelo, o das verbas indenizatórias e o do mensalão do DEM.
Eleito corregedor da Câmara em fevereiro, sua primeira obra foi adotar medidas protelatórias para esfriar o caso Edmar Moreira (à época no DEM), cujo nome ficou atrelado a um castelo kitsch no interior de Minas Gerais. Acusado de usar dinheiro público de forma irregular, Moreira foi absolvido.
Mais adiante, Neto viu-se diante de dezenas de deputados usando verbas indenizatórias (R$ 15 mil mensais) de forma criminosa. Deram notas fiscais frias, pagaram serviços de suas próprias empresas ou torraram os recursos em campanhas eleitorais.Tudo ilegal.
Quando já ia fazendo o que mais aprecia -ou seja, nada-, o corregedor da Câmara beneficiou-se com o estouro do mensalão do DEM. Nada como um novo escândalo para encobrir o anterior. Neto mudou o foco. Passou a defender a não punição imediata do governador de Brasília, José Roberto Arruda, acusado de comandar um esquema de distribuição de propinas.
Arruda está rumo à salvação. Saiu do DEM sem ser expulso. E as verbas indenizatórias gastas de maneira ilegal? Esses crimes Neto engavetará no ano que vem.
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