FOLHA DE SÃO PAULO - 06/12/09
ão tem hora para desejar boas coisas às pessoas, nem para mandar um beijo, mesmo não as conhecendo
NÃO SEI como é em outras cidades, mas no Rio você não precisa conhecer uma pessoa para ser tratada como se fosse amiga de infância.
Se telefonar para uma empresa qualquer -seja para encomendar um toldo, pedir uma pizza ou saber do preço de um remédio-, quem atende ao telefone te trata imediatamente com um carinho que você talvez nunca tenha recebido dos mais próximos, sangue do seu sangue.
"Sim, minha linda", "Claro, meu amor", "Já já, paixão". Não é maravilhoso que pessoas que nunca te viram sejam tão afetuosas e pareçam te amar tanto? É por essa razão -também- que os estrangeiros se apaixonam por esta maravilhosa cidade.
É bem verdade que essas adoráveis intimidades acontecem, mais frequentemente, pelo telefone; outro dia, uma amiga estava em minha casa e pediu o telefone do meu estofador. Aí ligou para ele -que nunca havia visto- e, quando se despediu, disse "um beijo", que tal?
Fico imaginando se alguma secretária na França, país tão protocolar, falaria ao telefone com um cliente da empresa dizendo "Oui, mon trésor", ou "Non, mon amour". Se isso acontecesse, estaria arriscada a ser enviada para um asilo de loucos; nunca, mas nunca, ninguém ouviu isso na França. Aliás, acho que em nenhum país do mundo, aliás em nenhuma cidade. E isso é bom ou ruim? Nem bom nem ruim, mas acho que mais para bom, pois sempre sorrio quando me acontece, o que é sempre uma coisa boa.
Já que estou falando sobre o Rio, cidade que eu adoro (apesar de tudo), vou contar como foi minha manhã hoje, e não vale ficar com inveja; aliás, até vale, mas só um pouquinho. Às 7h saí e fui para a praia, a três quarteirões de minha casa. Estava um sol radioso, a praia quase vazia, e comecei dando uma caminhada na calçada, em homenagem à minha saúde.
Voltei pela areia, molhando os pés na água. Sinceramente, tem alguma coisa melhor? Já de volta -não se pode tomar sol a partir das 8h30-, parei num quiosque, sentei numa cadeira e tomei uma água de coco, pela qual paguei R$ 2,50. Teria adorado comer a polpa, mas como ouvi dizer que engorda loucamente, me privei desse prazer.
Voltei passando pela feira, onde prestei uma atenção especial às barracas de peixes, de frutas, de legumes, tudo mais lindo do que qualquer quadro do mais famoso dos pintores. E o tratamento que recebi? Nem uma rainha foi, jamais, tratada melhor.
Os donos das barracas, ao oferecer seus produtos, foram tão calorosos que, se eu me distraísse, seria capaz de levar as beringelas lindas mas insossas, as abobrinhas que não têm gosto de nada ou a metade de uma jaca; você já reparou em como é divertida a natureza? E fala sério: do que você mais gosta na vida?
De comer caviar servido por um garçom antipático, ou uma sardinha na brasa sendo chamada de "paixão"? Sendo bem tratada, eu quero comer sardinhas até o fim da vida.
Todos os dias minha empregada, quando vai embora, se despede dizendo "um beijo". Eu também digo "um beijo", e adoro. Adoro viver assim.
E adoro tanto, que vou terminar essa crônica mandando um beijo pra você, leitor, meu tesouro, e aproveito para desejar um feliz Natal, e um maravilhoso 2010. Ah, ainda não está na hora?
Mas não tem hora para desejar boas coisas às pessoas, nem para mandar um beijo, ou beijinho, mesmo não as conhecendo.
Assim, a vida fica melhor.
ão tem hora para desejar boas coisas às pessoas, nem para mandar um beijo, mesmo não as conhecendo
NÃO SEI como é em outras cidades, mas no Rio você não precisa conhecer uma pessoa para ser tratada como se fosse amiga de infância.
Se telefonar para uma empresa qualquer -seja para encomendar um toldo, pedir uma pizza ou saber do preço de um remédio-, quem atende ao telefone te trata imediatamente com um carinho que você talvez nunca tenha recebido dos mais próximos, sangue do seu sangue.
"Sim, minha linda", "Claro, meu amor", "Já já, paixão". Não é maravilhoso que pessoas que nunca te viram sejam tão afetuosas e pareçam te amar tanto? É por essa razão -também- que os estrangeiros se apaixonam por esta maravilhosa cidade.
É bem verdade que essas adoráveis intimidades acontecem, mais frequentemente, pelo telefone; outro dia, uma amiga estava em minha casa e pediu o telefone do meu estofador. Aí ligou para ele -que nunca havia visto- e, quando se despediu, disse "um beijo", que tal?
Fico imaginando se alguma secretária na França, país tão protocolar, falaria ao telefone com um cliente da empresa dizendo "Oui, mon trésor", ou "Non, mon amour". Se isso acontecesse, estaria arriscada a ser enviada para um asilo de loucos; nunca, mas nunca, ninguém ouviu isso na França. Aliás, acho que em nenhum país do mundo, aliás em nenhuma cidade. E isso é bom ou ruim? Nem bom nem ruim, mas acho que mais para bom, pois sempre sorrio quando me acontece, o que é sempre uma coisa boa.
Já que estou falando sobre o Rio, cidade que eu adoro (apesar de tudo), vou contar como foi minha manhã hoje, e não vale ficar com inveja; aliás, até vale, mas só um pouquinho. Às 7h saí e fui para a praia, a três quarteirões de minha casa. Estava um sol radioso, a praia quase vazia, e comecei dando uma caminhada na calçada, em homenagem à minha saúde.
Voltei pela areia, molhando os pés na água. Sinceramente, tem alguma coisa melhor? Já de volta -não se pode tomar sol a partir das 8h30-, parei num quiosque, sentei numa cadeira e tomei uma água de coco, pela qual paguei R$ 2,50. Teria adorado comer a polpa, mas como ouvi dizer que engorda loucamente, me privei desse prazer.
Voltei passando pela feira, onde prestei uma atenção especial às barracas de peixes, de frutas, de legumes, tudo mais lindo do que qualquer quadro do mais famoso dos pintores. E o tratamento que recebi? Nem uma rainha foi, jamais, tratada melhor.
Os donos das barracas, ao oferecer seus produtos, foram tão calorosos que, se eu me distraísse, seria capaz de levar as beringelas lindas mas insossas, as abobrinhas que não têm gosto de nada ou a metade de uma jaca; você já reparou em como é divertida a natureza? E fala sério: do que você mais gosta na vida?
De comer caviar servido por um garçom antipático, ou uma sardinha na brasa sendo chamada de "paixão"? Sendo bem tratada, eu quero comer sardinhas até o fim da vida.
Todos os dias minha empregada, quando vai embora, se despede dizendo "um beijo". Eu também digo "um beijo", e adoro. Adoro viver assim.
E adoro tanto, que vou terminar essa crônica mandando um beijo pra você, leitor, meu tesouro, e aproveito para desejar um feliz Natal, e um maravilhoso 2010. Ah, ainda não está na hora?
Mas não tem hora para desejar boas coisas às pessoas, nem para mandar um beijo, ou beijinho, mesmo não as conhecendo.
Assim, a vida fica melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário