O pecado original
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/12/09
A democracia representativa é a forma de gerir a sociedade que melhor se aproximou do ponto ótimo de operação. Contudo, ela se expressa através da vontade da maioria e essa expressão é aferida pelo voto. Acontece que voto custa caro, não adianta a justiça eleitoral, daqui e de outros países, deitar regras tentando disciplinar as doações e contribuições. Há sempre uma caixa dois e uma caixa dois da caixa dois, formando uma cadeia infernal em que as responsabilidades são diluídas. Volta e meia, uma bobeada qualquer no sistema e surge um mensalão ou escândalo equivalente. Vem então a mídia na base do “Mata! Esfola!” que coloca determinado partido ou político na berlinda até que venham novos mensalões e escândalos.
Como obscuro observador dos fatos políticos, limito-me a constatar o óbvio: para obter o voto, que dá legitimidade à democracia representativa, não foi ainda inventada outra fórmula para auferir a “representatividade”, a não ser o voto que custa caro. Este é pecado original, o nó da questão que desafia sociólogos, filósofos, cientistas políticos et caterva que devem encontrar um instrumento mais esterilizado para operar a cirurgia da sociedade.
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