O conselheiro do mundo
A distância que separa a civilização da caverna, e a modernidade democrática do primitivismo populista, escancarou-se quando o Irã atômico entrou em pauta na entrevista coletiva em Berlim. Com clareza, concisão e sobriedade. a primeira-ministra da Alemanha informou que as molecagens cada vez mais atrevidas de Mahmoud Ahmadinejad esgotaram a paciência das grandes nações. À advertência da Alemanha seguiram-se os acordes da Aquarela do Brasil e o enredo mal costurado pelo visitante.
Na primeira parte do falatório, Lula pediu que a criatura dos aiatolás fosse contemplada com mais paciência e um voto de confiança. Se o amigo iraniano já disse que não pensa em bomba, não há por que duvidar. Na segunda parte, o monoglota que ama a própria voz engatou uma ré e desandou: e os Estados Unidos? E a Rússia? Enquanto todos não desativarem seu arsenal, decolou, ninguém terá autoridade para exigir que o Irã deixe de fazer o que o orador acabara de garantir que não fará.
Ignorante em geografia, Lula mal sabe onde ficam os países cujo destino pretende influenciar. Analfabeto em geopolítica, incapaz de gaguejar a palavra realpolitik, flutua na estratosfera com a placidez de quem passeia num carrossel ─ e passou a berrar enormidades que nem os napoleões de hospício e os doidos de pedra ousariam sussurrar.
Lula acha mesmo que é o cara, reafirmou a patética performance em Berlim. Já virou conselheiro do mundo. Antes que se candidate à presidência da Terra, alguém poderia soprar-lhe que não há esperança de salvação para quem não sabe rir de si próprio, olhar-se com ironia, reconhecer os próprios limites e proibir-se de brincar de onisciente.
O Lula sindicalista e o Lula do PT ainda no berço pareciam saber. Se é que sabiam, o presidente não sabe mais. O Brasil que se cuide.
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