quinta-feira, novembro 12, 2009

PAINEL DA FOLHA

Redoma de vidro

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/09

A reclusão de Dilma Rousseff ontem, enquanto Edison Lobão se dedicava a repetir que o apagão não foi nada demais, sem dúvida resulta da preocupação em manter a candidata longe do noticiário negativo, mas se inscreve num movimento maior que vem reduzindo drasticamente a participação da outrora gerente nas questões operacionais do governo.

A ministra não estava presente quando Lula foi informado do blecaute, durante reunião com governadores para tratar da espinhosa questão dos royalties do pré-sal. “Agora ela vai trilhar um outro caminho”, diz um petista diretamente envolvido na campanha. “Não pode ficar entrando em bola dividida.”

Mordomo - Tão logo Lobão foi despachado da reunião do pré-sal para tomar pé do apagão, um dos presentes brincou: “No tempo da Dilma isso não acontecia”. Ela foi ministra de Minas e Energia no primeiro mandato de Lula.

A pé - Com Franklin Martins na China e Gilberto Carvalho em Roma, o Planalto enfrentou ontem as dificuldades do pós-apagão sem dois de seus principais operadores.

Poliana - Palavras-chave repetidas pelos governistas no Congresso: “o que a Dilma fez” na área de energia permitiu a “superação rápida” do apagão em 18 Estados.

A conferir - Um assíduo frequentador do Planalto porém adverte: “Este discurso só tem chance de funcionar se o problema não se repetir”.

Fla... - A disparidade entre notas oficiais e pronunciamentos de governistas expõe a longa queda de braço entre PT e PMDB pelo controle do setor elétrico. Enquanto o primeiro domina o conselho e a direção de Itaipu, o segundo manda em Furnas por meio de prepostos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

...Flu - Os petistas se queixam de que as falas iniciais de Edison Lobão procuraram empurrar a responsabilidade para a usina de Itaipu, protegendo Furnas, ainda que a área técnica do governo tenha apontado problemas na transmissão (Furnas) e não na geração (Itaipu).

Cinto apertado - A previsão de investimentos do governo em estatais no próximo ano, conforme detalhamento divulgado na semana passada, prevê redução de 30% para Furnas, com queda de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,1 bilhão, na comparação 2009-2010.

Lupa - Parecer de 2008 do ministro Benjamin Zymler, do TCU, a respeito do Tratado de Itaipu aponta dificuldades de fiscalização resultantes da natureza binacional da empresa. O texto cobra mudanças no estatuto de 1973.

Elenco - Além do diretor-geral, Jorge Samek, outros petistas formam o comando de Itaipu: o ex-deputado Edésio Passos e João Vaccari Neto, ligado à CUT e ao presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

Mundo da lua - O site do Ministério de Minas e Energia atravessou o dia de ontem com a seguinte manchete: “Produção nacional de gás natural bate recorde”.

Termômetro - O dia terminou ontem no STF com a percepção de que José Antonio Dias Toffoli tende a não votar hoje no julgamento da extradição de Cesare Battisti.

Coisas da vida - Toffoli, que ontem votou para impedir a posse imediata de mais 7.000 vereadores, tem um irmão à espera de vaga. José Luis Dias Toffoli, de Marília, é primeiro suplente do PT.

Pipoca - Produtores do filme “Lula, o Filho do Brasil” e integrantes da Prefeitura de São Bernardo se reuniram ontem com o pessoal da segurança do Planalto. Foram avisados de que a família do presidente irá em peso à exibição, dia 28, no pavilhão Vera Cruz.

Tiroteio

O apagão foi sério. Precisamos ouvir quem entende de energia elétrica, o que não é o caso dos ministros Lobão e Dilma.

Do deputado JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA), desaconselhando colegas da oposição a propor a convocação dos dois ministros para falar na Comissão de Minas e Energia da Câmara sobre o apagão ocorrido da noite de anteontem.

Sem bateria

Árbitro da queda-de-braço em torno dos royalties do pré-sal, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) chegou à votação de seu relatório na comissão especial da Câmara com aparência cansada e voz mais rouca que de costume.

Nem mesmo a notícia do acordo entre União e Estados produtores, fechado tarde da noite em reunião com Lula, parecia animar o exaurido deputado, que desabafou com os colegas:


- Estão dizendo que teve apagão no Brasil, mas eu não vi. Quem apagou fui eu, assim que cheguei em casa.

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