HÁ UM COMPONENTE de perversidade além de todo o já dito (e bem sintetizado pela santa ira de Fernando de Barros e Silva) sobre a expulsão da moça Geisy Arruda em solidariedade da Uniban aos colegas que a submeteram a tortura moral e psicológica. Uniban. Oban. UniOban. Expulsar Geisy Arruda a meio de novembro, na reta final do semestre letivo, depois de dela receber as mensalidades anteriores e, agora, invalidando-lhe o gasto, o tempo e o presumido esforço: não haveria requinte de desumanidade mais adequado para a sessão de medo e terror a que moça foi submetida. A reação de opiniões e iniciativas imediatas em favor de Geisy Arruda é algo de novo, e reconfortante. Mas os esperáveis recuos de Heitor Pinto Filho e sua Uniban, diante da maré que suscitaram, não podem ter o destino comum aos casos de tortura e aos torturadores. Se enfim ocorreu, a novidade da reação coletiva e espontânea, da indignação que assume as formas de um fato, está em dívida das ações restantes. Um homem com a cabeça empurrada pelo vaso sanitário a dentro, e depois espancado quando caído no chão, foi a imagem que perpassou com modéstia, na semana passada, por uns poucos jornais e outros poucos telejornais. O caso saíra de Santa Catarina, e não se sabe para onde foi com tanta rapidez, se para um inquérito daqueles nossos conhecidos nos atos de tortura, um cemitério chamado de arquivo, ou nem isso. A Uniban também tratou de acobertar, com presteza, os autores da tortura psicológica e moral a que Geisy Arruda foi submetida, aterrorizada sob o cerco de dezenas ou centenas desejosos de alcançá-la em seu refúgio precário, ameaçando-a de estupro múltiplo à maneira dos piores presídios. Enquanto as narrativas do episódio citam centenas a ameaçar a colega, os responsáveis pela Uniban não se referiram a mais do que "seis ou oito", cujos nomes "não sabiam". O Ministério da Educação, a Secretaria da Mulher e a polícia de São Bernardo do Campo moveram-se com presteza. Mas as responsabilidades dos dirigentes e autores imediatos do caso têm mais do que o necessário para ser, também, de alçada da Secretaria de Direitos Humanos e, portanto, da disposição do secretário Paulo Vannuchi.
A dedo O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, leva hoje a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, para conhecer uma favela carioca: a do Dona Marta, onde o PAC faz casas coloridas, campo de esportes e ruas. Por que não a leva ao morro dos Macacos?
Meu risco Preciso defender uma sugestão aqui publicada há tempos, e cujo uso um amigo criticou ontem na Folha. Foi a menção à conveniência de evitarmos o que, a meu ver, é o velho equívoco de tratar as situações de perigo como risco de vida. Meu argumento é sucinto. Ter a vida em risco é risco de morrer. Logo, risco de morte. Aceito "supor que alguém resolva atravessar uma avenida com o sinal fechado". Pois é, ele se arrisca a morrer, põe a vida em risco de morrer: em risco de morte. Em retribuição, proponho supor o insucesso do quase suicida desesperado: risco de vida, coitado. Risco de vida não, forçosamente, o mesmo que vida em risco. |
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