O GLOBO - 23/11/09
A possibilidade de duas grandes linhas de transmissão de energia, mesmo paralelas, entrarem em curto simultaneamente é muito pequena. Em três, então, é quase nula. Mas o improvável aconteceu.
É meio aquele ditado em espanhol sobre as bruxas (“no creo, pero que las hay, hay”). Então, por via das dúvidas, o sistema interligado deveria contar com “centrais elétricas de emergência”.
Instalar novas linhas de transmissão “sobressalentes” ficaria caro demais, e acabaria onerando as tarifas pagas pelos consumidores de energia. O mais adequado, na opinião de alguns especialistas, seria a utilização de usinas próximas aos centros de consumo que se dedicariam ao fornecimento de energia, em situações de emergência, para hospitais, quartéis, trens, metrôs, iluminação de ruas, áreas de grande movimento comercial.
No caso de não existirem centrais elétricas próximas, uma das opções seria a instalação de grandes geradores locais apenas para esse fim.
Embora queimem óleo combustível ou diesel, tais motores só funcionariam em situações de emergência.
Pela tecnologia atual, em menos de cinco minutos esses grandes geradores são postos em operação.
Provavelmente a implantação de um sistema de emergência a cargo das distribuidoras de energia custaria menos que a soma dos vários geradores de porte médio sob responsabilidade direta de hospitais, companhia de trens, etc.
Em andanças recentes tive a oportunidade de visitar a mais antiga usina de açúcar e álcool do grupo Cosan (a Costa Pinto, em Piracicaba), que é o maior do setor, para observar o processo de cogeração de vapor e energia elétrica a partir da queima do bagaço de cana. Das 400 e tantas usinas existentes no país, nem 90 geram excedentes de eletricidade.
Mas a geração atual já equivale a 3% da energia fornecida por Itaipu (mas a contribuição do setor poderia perfeitamente passar de 3% para 20%).
No caso da Costa Pinto, muito próxima ao centro de Piracicaba, cidade com 450 mil habitantes que faz parte da região metropolitana de Campinas, a capacidade de geração é de 75 megawatts. A usina utiliza um quinto disso para si própria. Grande parte do excedente é vendido à CPFL, por uma linha de transmissão de apenas dois quilômetros, e ainda sobra alguma coisa para negociação no mercado livre.
A usina consegue moer 24 mil toneladas de cana por dia. No dia em que a visitei, estava moendo quase 15 mil toneladas. A safra deve se estender até dezembro, pois chuvas fortes na região retardaram a colheita.
A lavoura da cana em São Paulo está se mecanizando.
Depois de 2014 não haverá mais colheita manual e, provavelmente, nem plantio (a introdução de cada máquina emprega de 14 a 18 pessoas, com salários geralmente 50% mais altos; no entanto, cada uma delas substitui o trabalho de cem cortadores de cana). Como 54% da safra paulista já são provenientes de lavouras mecanizadas, as usinas agora aproveitam também a palha, junto com o bagaço, nas suas caldeiras, obtendo mais vapor para o processo de produção de açúcar/álcool e geração de eletricidade.
Na colheita manual, a palha acaba sendo queimada antes do corte, para não expor ainda mais os trabalhadores a acidentes (as folhas da cana, quando verdes, parecem “navalhas”).
Os usineiros resistiram muito à idéia de investir em aumento da capacidade de cogeração. Essa iniciativa teve que passar por um teste São Tomé, comprovando, na prática, que funciona. O retorno do investimento se dá num prazo de 9 a 11 anos. A receita da venda de energia contribui com aproximadamente 10% do faturamento da usina, Pode não ser muito mas garante à empresa um fluxo de caixa estável (enquanto o resultado do açúcar e do álcool oscila fortemente, acompanhando a variação de preços desses produtos nos mercados doméstico e internacional). Para cada tonelada de cana, o lucro bruto obtido com açúcar e álcool é da ordem de R$ 90. Então é uma atividade que, para ser bom negócio, precisa de grandes quantidades.
Voltando ao tema da cogeração, com exceção do sistema de controle das turbinas — semelhante ao de aviões — toda a linha de equipamentos para a cogeração é fabricada e projetada no Brasil.
A chamada bioeletricidade, originária do bagaço de cana, sempre terá função complementar, especialmente no período que as chuvas diminuem e os reservatórios das hidrelétricas se esvaziam.
É um tipo de energia que, se não é capaz de evitar apagões, permite que localidades próximas às usinas restabeleçam o fornecimento rapidamente. Foi o que aconteceu em algumas cidades do interior de São Paulo no último apagão.
Embora complementar, é uma energia de fonte renovável, que se habilita a receber créditos de carbono (quando o projeto é certificado, sob aval da ONU, como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
O governo deveria adiar o leilão de energia marcado para dezembro e esperar pela liberação de licenças ambientais prévias de futuras hidrelétricas. Assim, evitaria que usinas térmicas (especialmente a óleo) dominem este leilão, como ocorreu nos anteriores. Já não há mais sangria desatada no setor.A energia que será licitada é para entrega daqui a cinco anos.Uma espera de mais alguns meses não comprometeria o planejamento da oferta.
É meio aquele ditado em espanhol sobre as bruxas (“no creo, pero que las hay, hay”). Então, por via das dúvidas, o sistema interligado deveria contar com “centrais elétricas de emergência”.
Instalar novas linhas de transmissão “sobressalentes” ficaria caro demais, e acabaria onerando as tarifas pagas pelos consumidores de energia. O mais adequado, na opinião de alguns especialistas, seria a utilização de usinas próximas aos centros de consumo que se dedicariam ao fornecimento de energia, em situações de emergência, para hospitais, quartéis, trens, metrôs, iluminação de ruas, áreas de grande movimento comercial.
No caso de não existirem centrais elétricas próximas, uma das opções seria a instalação de grandes geradores locais apenas para esse fim.
Embora queimem óleo combustível ou diesel, tais motores só funcionariam em situações de emergência.
Pela tecnologia atual, em menos de cinco minutos esses grandes geradores são postos em operação.
Provavelmente a implantação de um sistema de emergência a cargo das distribuidoras de energia custaria menos que a soma dos vários geradores de porte médio sob responsabilidade direta de hospitais, companhia de trens, etc.
Em andanças recentes tive a oportunidade de visitar a mais antiga usina de açúcar e álcool do grupo Cosan (a Costa Pinto, em Piracicaba), que é o maior do setor, para observar o processo de cogeração de vapor e energia elétrica a partir da queima do bagaço de cana. Das 400 e tantas usinas existentes no país, nem 90 geram excedentes de eletricidade.
Mas a geração atual já equivale a 3% da energia fornecida por Itaipu (mas a contribuição do setor poderia perfeitamente passar de 3% para 20%).
No caso da Costa Pinto, muito próxima ao centro de Piracicaba, cidade com 450 mil habitantes que faz parte da região metropolitana de Campinas, a capacidade de geração é de 75 megawatts. A usina utiliza um quinto disso para si própria. Grande parte do excedente é vendido à CPFL, por uma linha de transmissão de apenas dois quilômetros, e ainda sobra alguma coisa para negociação no mercado livre.
A usina consegue moer 24 mil toneladas de cana por dia. No dia em que a visitei, estava moendo quase 15 mil toneladas. A safra deve se estender até dezembro, pois chuvas fortes na região retardaram a colheita.
A lavoura da cana em São Paulo está se mecanizando.
Depois de 2014 não haverá mais colheita manual e, provavelmente, nem plantio (a introdução de cada máquina emprega de 14 a 18 pessoas, com salários geralmente 50% mais altos; no entanto, cada uma delas substitui o trabalho de cem cortadores de cana). Como 54% da safra paulista já são provenientes de lavouras mecanizadas, as usinas agora aproveitam também a palha, junto com o bagaço, nas suas caldeiras, obtendo mais vapor para o processo de produção de açúcar/álcool e geração de eletricidade.
Na colheita manual, a palha acaba sendo queimada antes do corte, para não expor ainda mais os trabalhadores a acidentes (as folhas da cana, quando verdes, parecem “navalhas”).
Os usineiros resistiram muito à idéia de investir em aumento da capacidade de cogeração. Essa iniciativa teve que passar por um teste São Tomé, comprovando, na prática, que funciona. O retorno do investimento se dá num prazo de 9 a 11 anos. A receita da venda de energia contribui com aproximadamente 10% do faturamento da usina, Pode não ser muito mas garante à empresa um fluxo de caixa estável (enquanto o resultado do açúcar e do álcool oscila fortemente, acompanhando a variação de preços desses produtos nos mercados doméstico e internacional). Para cada tonelada de cana, o lucro bruto obtido com açúcar e álcool é da ordem de R$ 90. Então é uma atividade que, para ser bom negócio, precisa de grandes quantidades.
Voltando ao tema da cogeração, com exceção do sistema de controle das turbinas — semelhante ao de aviões — toda a linha de equipamentos para a cogeração é fabricada e projetada no Brasil.
A chamada bioeletricidade, originária do bagaço de cana, sempre terá função complementar, especialmente no período que as chuvas diminuem e os reservatórios das hidrelétricas se esvaziam.
É um tipo de energia que, se não é capaz de evitar apagões, permite que localidades próximas às usinas restabeleçam o fornecimento rapidamente. Foi o que aconteceu em algumas cidades do interior de São Paulo no último apagão.
Embora complementar, é uma energia de fonte renovável, que se habilita a receber créditos de carbono (quando o projeto é certificado, sob aval da ONU, como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).
O governo deveria adiar o leilão de energia marcado para dezembro e esperar pela liberação de licenças ambientais prévias de futuras hidrelétricas. Assim, evitaria que usinas térmicas (especialmente a óleo) dominem este leilão, como ocorreu nos anteriores. Já não há mais sangria desatada no setor.A energia que será licitada é para entrega daqui a cinco anos.Uma espera de mais alguns meses não comprometeria o planejamento da oferta.
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