A verdade é que quase mais ninguém se lembrava de que Celso Pitta estava vivo. A surpresa pela morte precoce vem acompanhada por essa outra circunstância -da morte em vida. A última aparição de Pitta que ficou na memória coletiva é sintomática: alvo da operação Satiagraha, foi filmado em casa, preso de pijamas. Ao longo dos últimos anos, sua figura emergia de quando em quando das profundezas do oceano, onde parecia habitar assustado, sempre associada ao noticiário político-policial ou a escândalos familiares. A trajetória que o levou do anonimato à glória e desta à ruína está atrelada a Paulo Maluf. Pitta foi o herdeiro e o coveiro do malufismo. Com ele, a engrenagem da máquina malufista entrou em parafuso, conheceu sua autofagia. Depois do rompimento entre criador e criatura, Maluf costumava contar a seguinte história: "Quando o escolhemos candidato, eu disse para o Pitta: se você for um bom prefeito, vai virar governador, se for um bom governador, pode se tornar o Nelson Mandela brasileiro. Mas o Pitta não soube..." -e blablablá. Quando, em 1996, passou a prefeitura a Pitta, que derrotou Erundina e Serra, Maluf planejava ser presidente. Acabou derrotado por Covas numa disputa acirrada ao governo, em 1998. Marta Suplicy deve sua eleição em 2000 ao colapso do malufismo e da administração da cidade -obras de Pitta. Lembre-se que Kassab foi seu secretário do Planejamento entre 1997 e 98. Negro, carioca, economista com mestrado em Harvard, político de direita com perfil tecnocrático, personalidade mansa e apagada, uma figura rica e ao mesmo tempo muito frágil e fraca. Pitta foi empregado de Maluf na Eucatex antes de ser seu empregado na vida pública. A secura das mensagens de pêsames que a família recebeu mostra o grau do ostracismo em que se achava. Trinta pessoas foram ao enterro. Seria útil contar melhor a vida deste político acidental, que tinha olhar de cachorro abandonado e parecia triste até quando sorria. |
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