No fim de semana, Bruno, carioca, classe média, músico, 26 anos, sob o efeito de crack, álcool e remédios de tarja preta, estrangulou e matou sua namorada, Bárbara, 18. Em seguida, foi dormir, com ou sem consciência do que fizera. Ao acordar, constatou a tragédia e telefonou para o pai. Este chamou a polícia -preso, seu filho ficaria "internado", livre do coquetel de drogas, legais ou não, que era o seu dia a dia. Histórias como essa são também o dia a dia do país, embora poucas cheguem aos jornais, e encerram lições. Uma delas, a de que o crack não é mais um problema exclusivo dos meninos de rua de São Paulo, onde começou -a cracolândia foi exportada, é agora nacional e não distingue classes. E, ao contrário de outras drogas, que têm um esmalte charmoso, "de salão", o crack não comporta uso recreativo -com ele, a dependência se instala à segunda ou terceira pedra. Mas, como admitido pelo pai de Bruno, o crack não foi o único componente da adição de seu filho. Além do álcool, ele era usuário de antidepressivos, hipnóticos, benzodiazepínicos e antipsicóticos -remédios de uso "controlado", que a maioria dos médicos brasileiros de qualquer especialidade, inclusive pediatras, receita alegremente para os casos mais banais de hiperatividade, depressão, insônia ou simples tédio. Os garotos aprendem a combiná-los para um resultado potente em si ou em combinação com outras drogas. Enquanto as quadrilhas, as milícias e a polícia trocam tiros pela supremacia nos morros, os maiores causadores de dependência química no Brasil (segundo a estatística) saem legalmente dos consultórios médicos, farmácias, supermercados, bares e biroscas. As mortes que provocam têm sua sinistra contrapartida nos impostos que supostamente pagam. |
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