FOLHA DE SÃO PAULO - 28/10/09
SÃO PAULO - "Tem pessoas que governam o Brasil para o imaginário de uma pequena casta. E tem pessoas que governam pensando em envolver 190 milhões de brasileiros." O trecho foi dito por Lula na sua entrevista à Folha. Embora fale muito à imaginação, acabou sendo ofuscado pela repercussão da metáfora cristã que o presidente usou para ilustrar seu pragmatismo ilimitado. Voltemos a ele. O diabo, como se diz, mora nos detalhes.
Lula pretende "envolver" 190 milhões. O termo que usa é melhor do que parece. O petista quis lhe dar o sentido de "incluir" ou "abranger". O dicionário "Houaiss", no entanto, atribui mais de uma dúzia de significados à palavra -entre os quais "embrulhar", "enrolar", "tapar", "atrair", "cativar", "conquistar a atenção, a admiração ou o afeto de", "tomar conta de", "dominar".
O verbo comporta sentidos mais favoráveis e menos favoráveis a Lula. E todos eles concorrem para compor uma explicação que não seja banal ou simplória de seu governo. Ou seria essa uma maneira "tucana" demais de ver as coisas?
A oposição, de qualquer modo, deveria recortar a frase e distribuí-la aos membros de sua seleta casta com a seguinte instrução: leia e reflita pelo menos duas vezes ao dia -ao acordar e antes de dormir.
De nada adianta dizer que as complexidades do país real não cabem na clivagem sugerida por Lula. A retórica dicotômica com a qual o petista é capaz de inflamar grandes audiências não está solta no ar, mas ancorada na realidade palpável de que a classe C cresceu 31,3% neste governo e se tornou a mais numerosa do país. No ano passado, segundo dados recentes da FGV, ela respondia por 49,2% da população.
A desconexão entre a aprovação popular do governo e o que Lula chama de "imaginário de uma pequena casta" é um dado intrigante da realidade. Tanto mais curioso porque, no país dos emergentes e das desigualdades, quem mais cresceu, em termos proporcionais, foi a chamada classe AB -37,1%.
SÃO PAULO - "Tem pessoas que governam o Brasil para o imaginário de uma pequena casta. E tem pessoas que governam pensando em envolver 190 milhões de brasileiros." O trecho foi dito por Lula na sua entrevista à Folha. Embora fale muito à imaginação, acabou sendo ofuscado pela repercussão da metáfora cristã que o presidente usou para ilustrar seu pragmatismo ilimitado. Voltemos a ele. O diabo, como se diz, mora nos detalhes.
Lula pretende "envolver" 190 milhões. O termo que usa é melhor do que parece. O petista quis lhe dar o sentido de "incluir" ou "abranger". O dicionário "Houaiss", no entanto, atribui mais de uma dúzia de significados à palavra -entre os quais "embrulhar", "enrolar", "tapar", "atrair", "cativar", "conquistar a atenção, a admiração ou o afeto de", "tomar conta de", "dominar".
O verbo comporta sentidos mais favoráveis e menos favoráveis a Lula. E todos eles concorrem para compor uma explicação que não seja banal ou simplória de seu governo. Ou seria essa uma maneira "tucana" demais de ver as coisas?
A oposição, de qualquer modo, deveria recortar a frase e distribuí-la aos membros de sua seleta casta com a seguinte instrução: leia e reflita pelo menos duas vezes ao dia -ao acordar e antes de dormir.
De nada adianta dizer que as complexidades do país real não cabem na clivagem sugerida por Lula. A retórica dicotômica com a qual o petista é capaz de inflamar grandes audiências não está solta no ar, mas ancorada na realidade palpável de que a classe C cresceu 31,3% neste governo e se tornou a mais numerosa do país. No ano passado, segundo dados recentes da FGV, ela respondia por 49,2% da população.
A desconexão entre a aprovação popular do governo e o que Lula chama de "imaginário de uma pequena casta" é um dado intrigante da realidade. Tanto mais curioso porque, no país dos emergentes e das desigualdades, quem mais cresceu, em termos proporcionais, foi a chamada classe AB -37,1%.
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