FOLHA DE SÃO PAULO - 26/10/09
RIO DE JANEIRO - Há dez anos, vi Octavio de Moraes na praia do Diabo, no Arpoador, de papo com um amigo. Octavio, cor de mogno, já tinha 70 e tantos anos. Era ex-craque do Botafogo, arquiteto aposentado e filho da cronista Eneida, autora do definitivo "História do Carnaval Carioca". De repente, uma bola de frescobol rolou a seus pés, atirada por um rapaz que disputava uma partida a 50 ou 60 metros dali. Os jovens pediram que ele a devolvesse.
Octavio nem respondeu. Enquanto conversava, fez um montinho de areia com o pé descalço. Ajeitou a bolinha e, com um chute de três dedos, jogou-a na raquete de um dos garotos, que mal teve de esticar o braço. E reatou o papo com o amigo como se não tivesse feito nada demais. Estupefato, concluí: o sujeito envelhece e suas pernas já não aguentam correr, mas há coisas que o pé não esquece. Uma delas, colocar uma bola, mesmo que de frescobol, a 50 ou 60 metros, em cima de um lenço, se preciso for.
Em sua breve carreira no futebol, Octavio fora artilheiro e campeão carioca pelo Botafogo em 1948 e sul-americano pelo Brasil em 1949. Pouco depois, trocou o gramado pela prancheta e pela praia. Certa vez em Copacabana, nos anos 50, para driblar a proibição de jogar pelada na areia, ajudou a inventar nada menos que o futivôlei. Belo currículo. Mas, se tantos o invejavam naquela época, era por namorar a cantora Elizeth Cardoso, admirada não apenas pela voz.
Em 2005, ouvi-o muitas vezes sobre Garrincha para meu livro "Estrela Solitária". Octavio não chegara a jogar com Garrincha, mas conhecia como ninguém a alma do Botafogo, no fundo a dele próprio.
Morreu na semana passada no Rio, aos 86 anos. Não tinha poupança, nem seguro, nem plano de saúde. Mas tinha muitos amigos, que não o esqueceram e foram com ele até o fim.
RIO DE JANEIRO - Há dez anos, vi Octavio de Moraes na praia do Diabo, no Arpoador, de papo com um amigo. Octavio, cor de mogno, já tinha 70 e tantos anos. Era ex-craque do Botafogo, arquiteto aposentado e filho da cronista Eneida, autora do definitivo "História do Carnaval Carioca". De repente, uma bola de frescobol rolou a seus pés, atirada por um rapaz que disputava uma partida a 50 ou 60 metros dali. Os jovens pediram que ele a devolvesse.
Octavio nem respondeu. Enquanto conversava, fez um montinho de areia com o pé descalço. Ajeitou a bolinha e, com um chute de três dedos, jogou-a na raquete de um dos garotos, que mal teve de esticar o braço. E reatou o papo com o amigo como se não tivesse feito nada demais. Estupefato, concluí: o sujeito envelhece e suas pernas já não aguentam correr, mas há coisas que o pé não esquece. Uma delas, colocar uma bola, mesmo que de frescobol, a 50 ou 60 metros, em cima de um lenço, se preciso for.
Em sua breve carreira no futebol, Octavio fora artilheiro e campeão carioca pelo Botafogo em 1948 e sul-americano pelo Brasil em 1949. Pouco depois, trocou o gramado pela prancheta e pela praia. Certa vez em Copacabana, nos anos 50, para driblar a proibição de jogar pelada na areia, ajudou a inventar nada menos que o futivôlei. Belo currículo. Mas, se tantos o invejavam naquela época, era por namorar a cantora Elizeth Cardoso, admirada não apenas pela voz.
Em 2005, ouvi-o muitas vezes sobre Garrincha para meu livro "Estrela Solitária". Octavio não chegara a jogar com Garrincha, mas conhecia como ninguém a alma do Botafogo, no fundo a dele próprio.
Morreu na semana passada no Rio, aos 86 anos. Não tinha poupança, nem seguro, nem plano de saúde. Mas tinha muitos amigos, que não o esqueceram e foram com ele até o fim.
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