A revanche das luas
O GLOBO - 04/10/09
Apesar de hoje ser considerado um dos grandes cientistas do seu tempo, Harrison foi boicotado pelos seus pares e sacaneado pela Royal Society, cujos membros, na sua grande maioria, preferiam a astronomia à relojoaria. E no fim, nem lhe deram o prêmio.
O que houve durante a grande competição, portanto, foi uma briga entre o céu e a terra. Entre a engrenagem dos astros e seus divinizadores e um engenho humano que dispensava a ajuda vinda de cima. Durante anos – embora, claro, a medição pelos astros continuasse sendo usada na navegação –, diferentes versões da invenção de Harrison fixaram a longitude e asseguraram a precisão do posicionamento dos barcos no mar.
Aí inventaram o GPS, que, se não me falha o Google, quer dizer Sistema Global de Posicionamento em inglês, e mostra a quem quiser saber exatamente onde está na superfície do planeta, seja na terra ou no mar. Desde que inventaram o controle remoto – ou antes, com a pasta de dente listada –, eu sou um embasbacado pela engenhosidade humana, mas acho que até hoje nada me embasbacou mais do que o GPS. Que não apenas nos mostra como nos diz onde estamos a qualquer momento – na língua que escolhermos! O GPS só é possível pela existência de satélites em órbitas estacionárias sobre nossas cabeças. E os satélites nada mais são do que pequenas luas artificiais.
É o contra-ataque do céu na velha competição. A revanche das luas.
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