terça-feira, setembro 08, 2009

LUIZ GARCIA

Com uma só mão

O GLOBO -08/09/09

Para ser sincero, ainda não sei se o Rio tem mesmo uma boa turma na prefeitura, ou se qualquer administração municipal parece boa depois de tantos anos de Maias e Condes.

O mais prudente deve ser reservar o julgamento para mais adiante, sem deixar de registrar que — pelo menos e por enquanto — a nova turma não adotou o peculiar sistema de administração por email e está lançando na praça algumas ideias originais. É o caso desse projeto de fazer da Avenida Rio Branco rua de pedestres da Cinelândia até a Candelária.

Está tudo ainda na prancheta: nada está decidido, por exemplo sobre como será financiada a transformação, ou de que maneira serão divididos os custos entre governo e iniciativa privada.

A ênfase parece ser numa guerra ao dióxido de carbono: a frota de ônibus que circula na área seria reduzida em 70% e a presença de carros particulares seria fortemente desestimulada, pela adoção de ônibus elétricos, servindo principalmente às estações do metrô.

No meio de tanta modernidade, está prevista também a adoção do velho riquixá oriental, movido a bicicleta. E uma das ideias, que

me parece absolutamente revolucionária, é a eliminação do meio-fio: não seria mais necessária essa tradicional defesa do pedestre.

Quando tudo ficar pronto — se nada der errado, claro — a Avenida Rio Branco será transformada num parque urbano com dois milhões de metros quadrados.

O impacto disso sobre a poluição urbana, e em consequência sobre a qualidade de vida, será inestimável. Se ao mesmo tempo for para a frente o projeto de revitalização do Porto, o Centro do Rio realmente vai ficar uma beleza.

Tudo nos conformes, as obras devem começar no ano que vem; terminariam dois anos depois. Por enquanto, o carioca pode saudar as boas intenções, e se preparar para conferir os resultados.

Ninguém gosta de ser profeta da catástrofe, mas, até os projetos saírem do papel, a prudência manda bater palmas com uma só mão. Tudo dando certo, a gente bate com as duas. E aproveita o momento de congraçamento entre cidadãos e autoridades para uma discreta cobrança: como é, quando é que vocês vão começar a dar um jeito naquelas muralhas de concreto em que se transformou Copacabana?

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