Face de Maradona
O GLOBO - 02/09/09
Em primeiro lugar, transferiu o jogo da capital para a cidade de Rosário, onde, acredita, a pressão da torcida sobre a seleção brasileira seria (ou será mesmo) mais forte.
Não contente, inventa essas duas preciosidades, para que o jogo se torne mais rápido, mais corrido: quer que a grama do estádio seja cortada diariamente para ficar baixa, mais rente, e no dia do jogo quer que ela seja regada, tudo isso para dar mais velocidade à bola.
O que me causa espanto e uma certa graça é Maradona achar que tais expedientes, um tanto pueris a meu ver, poderão influir no resultado de um jogo que por muitos é considerado o maior clássico do futebol mundial. Imagino que eles tivessem mais efeito num possível jogo com a Estônia, a Jamaica ou a Tailândia. Mas contra o Brasil...
A Argentina é o tipo do país que, no futebol, pode derrotar a seleção brasileira em quaisquer circunstâncias. O fato de jogar em casa, este sim, ajuda, mas tanto em Rosário, em Buenos Aires ou em Mar del Plata. A altura da grama, molhada ou não, já me parece um pouco de desvario, o que, no caso do grande ex-jogador, não surpreende.
Poderiam entrever, sim, uma recorrência à propalada catimba dos argentinos, tão explorada pela nossa imprensa, como se nossos jogadores, brasileiros, fossem modelos de inocência e de cortesia, os anjinhos. Mas francamente... que bobagem.
O tema catimba vou “explorar” em outra coluna — até sábado, naturalmente.
No momento em que se discute — enfim! — o profissionalismo, ou melhor, a falta de profissionalismo do futebol do Rio, salta aos olhos, de dentro do campo, o péssimo comportamento dos jogadores (chamados de profissionais), como uma das demonstrações do descaso dos clubes.
Sei que histórias de gestão, como as narradas por Maurício Fonseca na reportagem sobre o tema, no último domingo, são mais importantes, mas não aguento mais ver a irresponsabilidade de jogadores cometendo gestos tolos e levando cartões amarelos, vermelhos, cor de rosa, etc...
Sem implicância, apenas a título de exemplo (porque pode ser em qualquer clube), pego o jogo até certo ponto fácil do Flamengo contra o Santo André. Leonardo Moura levou cartão amarelo porque, depois de fazer o gol de pênalti, levantou a camisa do clube para mostrar alguma coisa pessoal na camiseta de baixo.
Quer dizer: Leonardo Moura NÃO sabe que NÃO pode fazer isso. Além dele, a poucos minutinhos do fim, e quando o time já ganhava de 2 a 0, Dênis Marques fez questão de dar um carrinho num adversário, no campo deste, lá longe da defesa do Flamengo, num lance junto à linha lateral, sem qualquer importância. Levou amarelo também.
Houve épocas em que o futebol brasileiro (em qualquer clube) tinha supervisores de alta qualificação, como Carlos Nascimento, Almir de Almeida, Domingo Bosco, só para dar alguns exemplos.
Hoje, do lado de fora dos clubes, nem se sabe o que eles fazem, nem para que servem. Não tratam sequer da disciplina, entregando-a, como outras coisas, nas mãos dos técnicos.
Quando estes se desgastam nas relações com os jogadores, são eles os demitidos, enquanto os tais “supervisores”, assim entre aspas, continuam firmes, esbanjando inutilidade.
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