quarta-feira, setembro 02, 2009

AUGUSTO NUNES

SEÇÃO » Direto ao Ponto

O petista-desempregado sumiu

2 de setembro de 2009

Ando procurando há muito tempo duas brasileirices que, como a ararinha-azul, existem oficialmente mas nunca aparecem: o entrevistado-pelo-instituto-de-pesquisa e o comunista-assumido-com-menos-de-100-anos. Conheço gente que jura ter conhecido um entrevistado pelo Ibope ou alguém que abranda a olímpica solidão de Oscar Niemeyer. Tenho um amigo que garante ter visto as duas raridades. Eu nunca vi. E só acredito vendo.

A essas obsessões mais antigas somou-se uma terceira: procuro há quase sete anos um petista-desempregado. Não conheço nenhum, nem conheço quem conheça. Se os leitores também não conhecerem, a espécie será declarada oficialmente extinta. E um comício com a dupla Lula e Dilma vai festejar o sucesso incomparável do programa Desemprego Zero para a Companheirada.

Os doutores de verdade e as doutoras dilmas, os gênios da raça e os cretinos fundamentais, os que raciocinam em bloco e os repetentes de carteirinha, os primeiros da classe e os que babam na gravata, os varados de luz e os doidos varridos, os menores de idade e os caducos sem remédio, os sóbrios congênitos e os bêbados de berço ─ todos deram um jeito na vida. Ninguém ficou ao relento.

Sem concursos, exames, testes ou triagens, só com o bilhete do padrinho e a carteirinha do PT, a multidão defende o salário e o partido no Planalto, no Congresso, no Judiciário, na Petrobras, na Eletrobras, nos Correios, no Ibama, no Incra, na Funai, nas Ongs, nos blogs federais, na Caixa Econômica, no Banco do Brasil, no pré-sal, no Bolsa Família, no Fome Zero ─ nenhum cabide de empregos escapou. Onde houver uma folha de pagamentos anabolizada por dinheiro público, haverá um companheiro.

A espécie dos entrevistados-pelo-instituto-de-pesquisa sempre foi pouco numerosa e um tanto arredia. Os comunistas-assumidos-com-menos-de-100-anos viveram tanto tempo na clandestinidade que se sentem melhor nas sombras que na claridade. É a Síndrome do Cristão de Catacumba. Mas os petistas-desempregados eram dezenas de milhares no começo do século. O sumiço de todos os exemplares é uma proeza e tanto.

Para que a raça não reapareça com os filhos dos casais já amparados, o presidente Lula socorreu nesta terça-feira também os futuros militantes. Num dia só, enviou à Câmara dez projetos que criam 40 mil cargos públicos. É tanta vaga que até quem não nasceu já tem salário garantido no cabideiro federal. A conta de R$ 1.388 bilhão por ano será espetada no bolso do contribuinte.

É natural que a hipótese da derrota na sucessão presidencial seja recebida pela companheirada a socos e pontapés. Perder a eleição é ruim. Perder o emprego é muito pior. Dilma Rousseff não vai liderar uma campanha eleitoral. Vai chefiar uma campanha trabalhista.

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