Ações arriscadas
O GLOBO - 26/09/09
No momento em que cresce a importância do Brasil no cenário mundial, nossa diplomacia ganha visibilidade, mas se comporta de forma errática, com alguns acertos e erros preocupantes. Estes acontecem quando a política externa passa a ser conduzida mais por simpatias ideológicas do que por uma visão de Estado. Quando isso ocorre, o Itamaraty perde percepção estratégica. O equilíbrio, o profissionalismo e a sensatez, característicos da diplomacia do país desde o Barão do Rio Branco, são sobrepujados por ações arriscadas como esta, em Honduras, da qual o Brasil pode sair com a pecha de subimperialista.
No governo Lula, a ação diplomática brasileira se complica diante do forte apelo terceiro-mundista do presidente, de seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia, do chanceler Celso Amorim e do secretáriogeral Samuel Pinheiro Guimarães.
Um dos principais objetivos do país é obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, algo acertado no contexto de uma reforma da ONU. Mas nem por isso os fins justificam os meios, como tem acontecido, neste caso específico, com a política externa, que evitou, para não perder votos árabes, condenar o regime genocida do Sudão. E, pelo mesmo motivo, chegou ao ponto de preterir duas candidaturas de brasileiros ao posto mais alto da Unesco em favor de um postulante egípcio com inclinações antissemitas, afinal derrotado.
O espírito “compañero” nas relações com a área “bolivariana” da América do Sul tem frequentemente deixado o país em desvantagem, como no caso da nacionalização das instalações da Petrobras na Bolívia, pelo governo Evo Morales.
Em outra época, o profissionalismo e a visão de Estado do Itamaraty falaram mais alto, como deve ser. Um dos melhores exemplos foi o reconhecimento, em plena ditadura militar, do governo de esquerda do MPLA em Angola, apoiado pela URSS. Por ser a costa ocidental da África área de interesse prioritário brasileiro, o país foi o primeiro a reconhecer aquele governo, defendido inclusive por tropas cubanas, e hoje o Brasil tem presença econômica e política de peso no país. Graças à não interferência ideológica do então presidente Geisel (197479) e dos militares no Itamaraty. Era o tempo do “pragmatismo responsável”, conduzido pelo chanceler Azeredo da Silveira, com a ajuda, entre outros, do embaixador Italo Zappa.
Com Lula, o profissionalismo do Itamaraty foi engavetado, e o país pagará um preço por isso. Só com muita sorte o país não sairá chamuscado do episódio em Honduras, onde até é possível considerar um contragolpe a expulsão de Zelaya do poder, em junho.
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