Crise do emprego resiste na indústria, mas passa de modo rápido e inesperado; maioria dos setores entra no azul
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A CRISE DO EMPREGO passou muito mais rápido e de modo mais inesperado do que estudiosos e outros interessados no assunto esperavam, este colunista inclusive. É o que parece, a julgar pelo balanço do emprego formal de julho. As piores expectativas eram baseadas principalmente em duas hipóteses: 1) A queda do emprego ocorre com mais força depois de alguns meses do início do tombo na produção; 2) As demissões, que a princípio explodem na indústria de transformação ("fábricas"), tendem a se espalhar feito uma mancha de óleo no mar da economia. Não foi assim. Houve um pânico quase generalizado pelos setores da economia entre dezembro e janeiro. A indústria teve um primeiro trimestre desastroso e um segundo "apenas" horrível. Ainda vai mal. O comércio foi mais contaminado pelas fábricas, mas nos demais setores a reação começou cedo, após o "grande medo" da virada do ano. Fábricas e certos grandes exportadores foram, como se sabe, tragados pelo colapso do comércio mundial. A "ampliação do mercado interno", para recorrer ao velho blablablá desenvolvimentista, sustentou a atividade. Entre 87 setores de atividade econômica, os que apresentavam a maior redução do estoque de empregos em relação a julho de 2008 estavam o de produção florestal, metalurgia, informática e eletrônicos, montadoras, máquinas e equipamentos, madeira, couro e calçados, produtos de metal, borracha e plástico, máquinas e aparelhos elétricos, todos com quedas de 5% a 21%. Mas, agora, 52 setores empregam mais gente do que há um ano, embora os salários tenham caído. Em suma, o grosso do emprego sumiu devido à crise das montadoras e do investimento (máquinas, metalurgia e metal), de exportadores de alimentos e de alguns recursos naturais e das cronicamente complicadas manufaturas de têxteis, calçados e madeira. Construção civil, infraestrutura, serviços públicos, educação, varejo doméstico e as miríades de serviços, tudo isso ajudou a evitar que a peteca do emprego caísse no fundo do poço. A ação dos bancos estatais evitou o colapso do crédito. O crescimento forte e contínuo do gasto público, bom ou ruim, no curto prazo sustentou o mercado doméstico. Solvência nas contas externas e uma política macroeconômica mais ou menos conservadora vacinaram o país contra uma contaminação virulenta na área financeira e permitiram, coisa inédita, que o país baixasse os juros durante uma crise feia. A ação estatal mostrou-se um instrumento muito útil para evitar o alastramento do pânico. Os gastos ditos "sociais" expandiram os "estabilizadores automáticos" (seguro- -desemprego, benefícios sociais vários). Mesmo a parte pior (a maior) do gasto do governo no curto prazo ajudou a evitar recessão feia. Mas é também parte de nossos problemas crônicos: dívida pública ainda alta, gasto excessivo com juros, impostos demais e, ao mesmo tempo, investimento público limitado. O sucesso profilático da ação estatal ajuda a desmoralizar alguns mitos mercadistas. Pode, porém, criar mais ilusões e hábitos inerciais: excesso de gasto ruim, em ritmo de alta inviável, e economia regulada e estatizada demais onde não é necessário.
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