Por fim aparece um economista com coragem e sinceridade suficiente para dizer que previsões sobre desempenho econômico são tão científicas quanto jogar búzios ou ler a mão. O economista em questão, Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais do Santander Asset Management, prefere escrever que "há uma nítida assimetria entre nossa habilidade de explicar o passado e nossa capacidade de prever o futuro" (artigo para o "Valor Econômico", ontem publicado). Mosca vai muito além dessa frase comedida: conta que as projeções de mercado, reproduzidas no boletim "Focus" do Banco Central, erram feio sistematicamente. Escreve Mosca: "Uma rápida olhada na diferença entre as previsões feitas 12 meses atrás e os valores efetivamente observados para essas variáveis [PIB, inflação, juros reais e nominais e câmbio] revelam erros significativos, entre 40% e 12%. Além disso, para juros nominais e reais, a média das expectativas dos especialistas foi incapaz sequer de prever a direção em que elas iriam se deslocar" (os juros caíram, em vez de subir). Atenção, não se trata de erro por incompetência ou impossibilidade real de adivinhar o futuro, adverte o economista do Santander. Diz: "A oportunidade de ganhos está em antecipar o que os demais ainda não veem (...) e em traduzir isso em posicionamentos nos ativos certos, na "ponta" certa (comprado ou vendido) antes que os demais o façam". Traduzindo: apostam numa direção e fazem previsões para ajudar a aposta a dar certo. Sempre segundo Mosca: "Se a Nasa precisasse contar com a precisão das previsões do boletim "Focus", o voo da Apolo 11 provavelmente não teria alcançado a altura de um balão de festa junina". Pois é. E nós, jornalistas, vamos continuar a dizer, acriticamente, que o balão de festa junina é uma Apolo 11? |
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