Torcedor de Pisces
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/08/09
Na semana passada, em função dos 40 anos de Woodstock, Nick e Bobbi Ercoline, os jovens da foto, reapareceram. Têm agora 60 e tal anos. Continuam juntos, bonitos, liberais e, segundo eles, apaixonados. Pelo visto, não acreditaram no amor livre que se pregava na época. Preferiram uma união estável, careta, como a defendida por seus pais. E esse é o problema das revoluções: seus praticantes acabam parecidos com aqueles contra quem se rebelaram. E vice-versa.
Tive certeza disso outro dia ao ouvir, pelo rádio do táxi em São Paulo, dois locutores falando de Woodstock. Nitidamente não eram sequer nascidos em 1969, e sua cultura a respeito limita-se à internet. Eles acreditam que o evento gerou uma massa de pessoas purificadas, livres das horríveis deformações morais dos mais velhos e prontas para a era de paz e amor que, dizia-se, bateria às portas a qualquer momento: a era de Aquarius.
Um dos locutores tinha voz de comercial de sabonete; o outro, a de quem, aos 30 anos, ainda mora com a mãe. Nenhum dos dois teria sobrevivido cinco minutos à chuva, à lama, ao lixo, aos piolhos, à falta de comida e à oferta de fumo e ácido em Woodstock. Mas, à distância, tudo na história se converte num jardim de infância.
Na condição de milenar torcedor da era de Pisces, já naquele tempo eu torcia o nariz para essa história de Aquarius. Mas nem precisava. Ou Aquarius até hoje não chegou ou, se chegou, a paz e o amor continuam na promessa.
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