EDITORIAL
O GLOBO - 02/08/2009
O Brasil ganha estatura internacional devido ao bom desempenho de sua economia frente à crise. Compreensivelmente, os condutores da política externa querem que essa condição se reflita no aumento do peso político do país.
Mas frequentemente trilham caminhos que conspiram contra a meta.
É o caso da tendência da diplomacia brasileira, no governo Lula, de participar de “clubinhos” que, ao invés de somar forças, limitam a margem de manobra externa do Brasil.
Em várias situações, os formuladores da política externa ressuscitam posturas terceiro-mundistas, repetindo o erro de reunir “os fracos” na luta contra “os poderosos”.
Em outros momentos, foram retomadas posições evocativas do chamado conflito Norte-Sul. Nunca é demais lembrar a frase do ex-secretário de Estado americano Foster Dulles: “Países não têm amigos, têm interesses.” Promovido por um economista do Goldman and Sachs a Bric, grupo que o situa ao lado de China, Índia e Rússia como um dos principais países emergentes, o Brasil logo descobriu que isso, a rigor, não o faz “parceiro” dos outros três. Basta lembrar o melancólico fim da Rodada de Doha de negociações comerciais — uma das mais caras metas do Itamaraty. Em busca de salvar a rodada, o Brasil cedeu na área de serviços, em troca de concessões do Primeiro Mundo na agricultura. Mas, para decepção brasileira, China e Índia rejeitaram o acordo. Não se quer dizer com isso que o Brasil não deve ajustar seus ponteiros com os Bric, sem prejuízo de relações de igual para igual com os países ricos e dos esforços para melhorar as condições de vida nos mais pobres. Só não deve embarcar em canoas furadas, como se aproximar da China na esperança de fazer com ela uma frente mais poderosa diante, por exemplo, dos interesses americanos. As circunstâncias mudam rapidamente e, com elas, as parcerias.
Aliás, a primeira e a terceira economias do mundo — EUA e China — acabam de realizar mais um encontro para coordenar suas mútuas dependências. Pequim, com US$ 800 bilhões imobilizados em títulos do Tesouro americano, exortou Washington a não deixar o dólar se enfraquecer. Os EUA encorajaram a China a aumentar o consumo interno para que a economia chinesa possa continuar a crescer, ajudando a tirar o mundo da crise.
EUA e China podem ter rusgas geopolíticas, mas contam com sistemas produtivos complementares.
Antes da crise, dizia-se que os EUA eram o shopping, a China, a fábrica; a Índia, o call center. Haverá alguns rearranjos nesta articulação, mas nada que mude o destino relativamente comum dos dois países.
Mais uma lição para o Itamaraty.
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