A janela insensata
JORNAL DO BRASIL - 02/08/09
Às vezes penso que Lula ao deixar o trono da República deveria tentar a carreira de técnico ou comentarista de futebol. Dentre todos os temas da vida nacional é o que ele esgrima com mais intimidade. Dificilmente mostra-se bestialógico. Agora mesmo andou esbravejando contra essa tal janela por onde escapam nossos melhores jogadores, que deixam seus clubes em pleno Campeonato Brasileiro, dito o maior do planeta.
Nisso Lula tem toda razão. Há que se respeitar a soberania nacional também no futebol. Já não somos uma república das bananas onde os gringos vão chegando e carregando nossos craques em meio à competição como se isso aqui fosse o quintal de suas casas. Duvido que se fosse o inverso – quem sabe um dia? – os europeus permitissem que desfalcássemos seus times durante a temporada oficial. Quando a Europa abre a janela e vai às compras, quem sofre é o torcedor brasileiro, que fica a ver navios e aviões partindo com seus ídolos. A cada Ramires ou Nilmar ou André Santos que parte o futebol pentacampeão torna-se mais pobre (e os clubes não ficam mais ricos!).
Lula pede uma solução para o problema. Tenho certeza de que a CBF já estaria se mexendo caso o presidente usasse da mesma veemência com que defende o rei do Maranhão. Carregar nossos jogadores com o campeonato em curso equivale a atropelar a apresentação de uma orquestra e retirar o trombonista ou o baterista (ou ambos) do palco – para desespero dos maestros. Entendo que os clubes brasileiros vivem de pires na mão e gostariam de ver um janelão aberto o ano inteiro. Mas será que os jogadores não poderiam fazer as malas no nosso período de férias? Assinariam os contratos agora, na janela, e aguardariam a bola parar de rolar para saírem discretamente pela porta dos fundos, sem revoltar os torcedores nem prejudicar a campanha dos clubes no Brasileirão.
É preciso acabar com essa subserviência, esse nosso complexo de inferioridade. Somos os melhores do mundo – tesos e endividados, mas ainda os melhores. Urge estabelecer novas regras – se é que há alguma! – para essas transações. O que os europeus fazem – e só fazem porque permitimos – é quase uma invasão de privacidade. Quero esse, quero aquele, aquele outro, e vão enchendo seu carrinho de compras. Ainda bem que o Brasil é o maior produtor mundial de jogadores. Imagina amanhã ou depois um clube europeu batendo à porta do, digamos, Corinthians para comprar jogadores.
– Quais jogadores o senhor está querendo?
– Todos!
Não é uma hipótese a ser descartada no futuro.
Só lamento que não haja também uma janela parlamentar para nossos políticos. A mim não incomodaria nada ver o Congresso desfalcado, atuando com seus suplentes, alguns melhores do que os titulares. Ao contrário do que ocorre no futebol – onde sentimos as perdas – na política soltaríamos foguetes quando aparecesse alguém querendo contratar o Sarney para presidir o Senado do Cazaquistão.
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