Farsa garantida
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/08/09
O remendo está exposto na informação do ministro Nelson Jobim a Raphael Gomide, da Folha, de que a Colômbia dará garantias aos vizinhos de que a ação dos militares não excederá o território colombiano. Jamais, está implícito. Tal garantia será levada pelo presidente Álvaro Uribe, amanhã, à reunião da Unasul em Bariloche, Argentina.
Ocorre que garantias da Colômbia não têm valor, porque o presidente colombiano não detém jurisdição sobre as forças armadas dos EUA, cuja atuação é determinada só pelo presidente e pelo Congresso norte-americanos (e olhe lá).
Por isso mesmo, mas não apenas por isso, as lamúrias dos países sul-americanos não se voltaram para Álvaro Uribe, criticado só pelo deslize diplomático de não examinar com os vizinhos a cessão de bases. O que suscita inquietação na América do Sul, mais do que preocupação, são os motivos estratégicos que os EUA tenham para instalar bases na Colômbia, sob a informação de que objetivam fortalecer o combate colombiano às Farc e ao narcotráfico. Ou, como já foi dito também, para suprir a próxima extinção da sua base no Equador, por cancelamento da concessão pelo presidente Rafael Correa.
Mas trocar uma por sete, com distribuição territorial voltada para as quatro direções cardeais a partir do norte sul-americano, incluindo proximidade das fronteiras do Brasil amazônico e da Venezuela, é propósito muito além de uma permuta.
Além disso, a descida dos EUA na Colômbia é concomitante à recriação da 4ª Frota, destinada a operações no Atlântico Sul. E considere-se, ainda, o conhecido interesse dos EUA em base militar no Paraguai. Diante de um conjunto assim sugestivo, quanto pode valer a história de garantias do presidente colombiano sobre uma parte do dispositivo militar dos EUA? Não vale nem um disfarce para mãos atadas, porque é tão tolo quanto a pretendida convocação a Obama.
Nebulosa
Há dois aspectos a serem considerados nos desdobramentos da divergência de Dilma Rousseff e Lina Vieira. Um deles é o problema, em si, da divergência à espera da verdade, com tantas implicações que já excedem a pessoa da ministra e atingem Lula e o governo. Outro é o da velha dissensão na Receita Federal, que já chegou até a exigir dois sindicatos, afinal assimilados sob a denominação de Unafisco sem, no entanto, produzir unidade.
Não está claro, parece que nem mesmo para a Receita, qual dos dois aspectos prepondera na motivação da carga impressionante de demissões voluntárias. Assim também como não há, aqui fora, muita clareza sobre as mudanças de pessoas decorrentes da nomeação de Lina Vieira, no ano passado.
Enquanto predominar a nebulosidade, é exercício de má-fé a insinuação, por governistas, de relação entre as afirmações de Lina Vieira sobre encontro com Dilma Rousseff e o fato de seu marido ter sido ministro interino e efêmero no governo Fernando Henrique.
Justiça (?)
Agendado para hoje o julgamento de Antonio Palocci, o Supremo Tribunal Federal pode absolvê-lo, mas todos sabemos como tudo se passou para inculpar um caseiro por crimes que não cometeu. E quem seria o beneficiado.
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