Lula não ouviu o que disse
“Mentir é bobagem, porque uma mentira leva a outra, depois a outra e no fim a verdade acaba aparecendo”, disse Lula num dos inuméraveis improvisos de janeiro. O presidente anda falando tanto que, a exemplo dos parceiros de palanque, ele próprio não consegue prestar atenção em tudo o que diz. Se levasse em conta essa verdade elementar, a ministra Dilma Rousseff não teria negado a existência do encontro com Lina Vieira. Caso tivesse ouvido a obviedade, Lula não teria endossado a mentira da mãe do PAC.
A mentira que levou a outra levou o Gabinete de Segurança Institucional a mentir também. Em nota oficial, o GSI explicou por que não existiam imagens do circuito interno de video da Casa Civil que pudessem documentar o encontro: foram apagadas. “Conforme as especificações do edital assinado em 2004, o período médio de armazenamento das imagens varia em torno de 30 dias”, gatantiu o texto.
Falso, acaba de descobrir o site Contas Abertas, que obteve cópia do edital. Ficou estabelecido que os registros de acesso de pessoas e veículos ao Palácio do Planalto seriam guardados “em um banco de dados específico, com capacidade de armazenamento por um período mínimo de seis meses” ─ e depois “transferidos definitivamente para uma unidade de backup”. A fantasia foi chancelada pelo general Jorge Felix Pereira, chefe do SNI. Um general não pode rebaixar-se a cabo eleitoral. E rebaixar-se inutilmente.
Os efeitos positivos produzidos pelas férias compulsórias de Dilma ficarão restritos ao território da Casa Civil. Os assessores, por exemplo, serão poupados de repreensões aplicadas por quem confunde autoridade com grosseria. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, poderá atender ao telefone sem medo de chorar com outro pito. Mas a ausência de Dilma não vai reduzir o tamanho da enrascada em que se meteu.
E a verdade, como Lula sabe, acaba aparecendo.
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