O ESTADO DE SÃO PAULO - 14/06/09
Ainda no decorrer do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio da Silva, a cientista política e pesquisadora do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Luciana Fernandes Veiga fez um rápido estudo sobre os improvisos do presidente e concluiu que não adiantava cobrar dele precisão de raciocínio nem coerência dos argumentos.
Treinado na linguagem do cotidiano, cujos instrumentos se sustentam basicamente em ditados populares e juízos de valor a partir dos quais o senso comum estabelece suas verdades, Lula, dizia ela, não tem nem pretende ter compromisso com a exatidão, muito menos com a lógica formal. “Pedir a Lula que seja mais preciso em seus improvisos é pedir que mude seu modo de argumentação e persuasão, construído no campo da linguagem cotidiana.”
Luciana Veiga estava certa na constatação que o tempo acabou transformando numa imensa - talvez a maior - vantagem comparativa de Lula em relação aos seus pares na cena política. O presidente não apenas continuou na mesma toada de obviedades, raciocínios desconexos e argumentos imperfeitos, como se aproxima de completar seus dois mandatos sendo celebrado por ter uma comunicação popular de eficácia inquestionável.
Não obstante a qualidade para lá de questionável no que tange à elevação dos padrões gerais no trato do idioma e no exercício do melhor pensar para aperfeiçoar a capacidade de discernir. Fosse outro o padrão educacional do País, as falas de Lula muito provavelmente pareceriam desprovidas de sentido. Como a premissa preponderante é da obediência a deduções simplificadas, o discurso não perde credibilidade.
Da mesma forma como no início do governo Lula criticava “os de cima” por acharem que “pobre tem que ser pobre a vida toda”, mais recentemente culpou “os louros de olhos azuis” pela crise econômica mundial e contou aí com a colaboração da fantasia da divisão social tal como se dá no imaginário corriqueiro.
“Lula consegue estabelecer acordos tácitos com o público sobre as premissas e pressupostos do discurso porque comunga com a crença e os valores de seus interlocutores”, analisava a professora. Quando do tsunami que atingiu a Ásia, o presidente transformou o maremoto em “vendaval” e deu sua versão “quase-lógica” da tragédia: “A natureza é inofensiva e boa, mas quando é desrespeitada reage à altura.”
Segundo Luciana Veiga disse na ocasião, semelhante afirmação é aceita porque soa verossímil aos ditames do cotidiano histórico - “a natureza quando desrespeitada reage” - e do cotidiano moderno - “estão desrespeitando o meio ambiente” - das pessoas.
Pelo mesmo critério, aos ouvidos da maioria possivelmente pareceu plausível a declaração de Lula de que o Brasil encontraria os destroços do acidente com o avião da Air France porque “um país que acha petróleo a 6 mil metros de profundidade no mar, acha uma caixa-preta a 2 mil metros”.
As diferenças de circunstâncias, de procedimentos e o mau gosto da comparação simplesmente não são levados em conta. “Sem muitos recursos cognitivos e com um custo alto de informação, os homens comuns tocam a vida assim, se comunicam com os instrumentos que têm à mão”, explicava a pesquisadora, sem entrar no mérito sobre os recursos mentais e verbais do presidente.
O objetivo dela ao estudar o assunto não foi criticar nem elogiar a oratória do presidente, mas apenas expor as razões pelas quais considerava perda de tempo cobrar de Lula uma mudança nos paradigmas adotados ao longo de toda vida, “porque ele não tem a pretensão de ser preciso. Busca apenas chegar à consonância com o público, assim como se comporta o seu João na conversa no balcão do bar ou a dona Maria no portão com a vizinha”.
Revisitada a teoria à luz de seis anos transcorridos, a questão que se põe é a seguinte: que proveito poderá tirar o País e quem serão os beneficiários desse legado de comunicação eleitoralmente competente, mas indolente do ponto de vista educativo.
Por ora não é possível perceber ganho algum a ninguém que não seja o próprio Lula.
TEM DONO
Ato falho ou voluntário, fato é que na sexta-feira o presidente da República se apropriou da oposição, à qual antepôs o pronome possessivo “minha” ao discursar em Sergipe. “Minha oposição fica zangada”, disse, informando assim aos adversários que passam a fazer parte de seus pertences.
NEGÓCIOS À PARTE
Parceria combinada na eleição presidencial, nem por isso o Democratas pretende se pôr à disposição do PSDB em todos os palanques estaduais de 2010. Vai concorrer em faixa própria onde enxergar possibilidade de vitória. Por enquanto, no mínimo em três Estados: Distrito Federal (José Roberto Arruda), Tocantins (Kátia Abreu) e Bahia (Paulo Souto).
Ainda no decorrer do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio da Silva, a cientista política e pesquisadora do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Luciana Fernandes Veiga fez um rápido estudo sobre os improvisos do presidente e concluiu que não adiantava cobrar dele precisão de raciocínio nem coerência dos argumentos.
Treinado na linguagem do cotidiano, cujos instrumentos se sustentam basicamente em ditados populares e juízos de valor a partir dos quais o senso comum estabelece suas verdades, Lula, dizia ela, não tem nem pretende ter compromisso com a exatidão, muito menos com a lógica formal. “Pedir a Lula que seja mais preciso em seus improvisos é pedir que mude seu modo de argumentação e persuasão, construído no campo da linguagem cotidiana.”
Luciana Veiga estava certa na constatação que o tempo acabou transformando numa imensa - talvez a maior - vantagem comparativa de Lula em relação aos seus pares na cena política. O presidente não apenas continuou na mesma toada de obviedades, raciocínios desconexos e argumentos imperfeitos, como se aproxima de completar seus dois mandatos sendo celebrado por ter uma comunicação popular de eficácia inquestionável.
Não obstante a qualidade para lá de questionável no que tange à elevação dos padrões gerais no trato do idioma e no exercício do melhor pensar para aperfeiçoar a capacidade de discernir. Fosse outro o padrão educacional do País, as falas de Lula muito provavelmente pareceriam desprovidas de sentido. Como a premissa preponderante é da obediência a deduções simplificadas, o discurso não perde credibilidade.
Da mesma forma como no início do governo Lula criticava “os de cima” por acharem que “pobre tem que ser pobre a vida toda”, mais recentemente culpou “os louros de olhos azuis” pela crise econômica mundial e contou aí com a colaboração da fantasia da divisão social tal como se dá no imaginário corriqueiro.
“Lula consegue estabelecer acordos tácitos com o público sobre as premissas e pressupostos do discurso porque comunga com a crença e os valores de seus interlocutores”, analisava a professora. Quando do tsunami que atingiu a Ásia, o presidente transformou o maremoto em “vendaval” e deu sua versão “quase-lógica” da tragédia: “A natureza é inofensiva e boa, mas quando é desrespeitada reage à altura.”
Segundo Luciana Veiga disse na ocasião, semelhante afirmação é aceita porque soa verossímil aos ditames do cotidiano histórico - “a natureza quando desrespeitada reage” - e do cotidiano moderno - “estão desrespeitando o meio ambiente” - das pessoas.
Pelo mesmo critério, aos ouvidos da maioria possivelmente pareceu plausível a declaração de Lula de que o Brasil encontraria os destroços do acidente com o avião da Air France porque “um país que acha petróleo a 6 mil metros de profundidade no mar, acha uma caixa-preta a 2 mil metros”.
As diferenças de circunstâncias, de procedimentos e o mau gosto da comparação simplesmente não são levados em conta. “Sem muitos recursos cognitivos e com um custo alto de informação, os homens comuns tocam a vida assim, se comunicam com os instrumentos que têm à mão”, explicava a pesquisadora, sem entrar no mérito sobre os recursos mentais e verbais do presidente.
O objetivo dela ao estudar o assunto não foi criticar nem elogiar a oratória do presidente, mas apenas expor as razões pelas quais considerava perda de tempo cobrar de Lula uma mudança nos paradigmas adotados ao longo de toda vida, “porque ele não tem a pretensão de ser preciso. Busca apenas chegar à consonância com o público, assim como se comporta o seu João na conversa no balcão do bar ou a dona Maria no portão com a vizinha”.
Revisitada a teoria à luz de seis anos transcorridos, a questão que se põe é a seguinte: que proveito poderá tirar o País e quem serão os beneficiários desse legado de comunicação eleitoralmente competente, mas indolente do ponto de vista educativo.
Por ora não é possível perceber ganho algum a ninguém que não seja o próprio Lula.
TEM DONO
Ato falho ou voluntário, fato é que na sexta-feira o presidente da República se apropriou da oposição, à qual antepôs o pronome possessivo “minha” ao discursar em Sergipe. “Minha oposição fica zangada”, disse, informando assim aos adversários que passam a fazer parte de seus pertences.
NEGÓCIOS À PARTE
Parceria combinada na eleição presidencial, nem por isso o Democratas pretende se pôr à disposição do PSDB em todos os palanques estaduais de 2010. Vai concorrer em faixa própria onde enxergar possibilidade de vitória. Por enquanto, no mínimo em três Estados: Distrito Federal (José Roberto Arruda), Tocantins (Kátia Abreu) e Bahia (Paulo Souto).
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