A torcida de um homem só
JORNAL DO BRASIL - 14/06/09
Algum sociólogo deve saber explicar porque São Paulo, a mais rica, culta e educada das cidades brasileiras abriga as torcidas mais violentas e arruaceiras do país. Antes que alguém levante o dedo e peça a palavra para informar que trata-se de uma minoria de vândalos , que não representa a totalidade dos torcedores etc etc..., deixe-me dizer que nesse caso os muitos inocentes levam a fama pelos poucos pecadores.
Essas cenas, sempre ditas lamentáveis – como as que ocorreram antes do jogo entre Corintians e Vasco – não são vistas com a mesma frequência em outros estádios do país. Por que São Paulo? Alguns estudiosos atribuem a violência nos estádios à falta de cintura dos paulistas, que sem o espírito gozador do carioca carregam seu amor pelo clube com um fervor fundamentalista. Ou serão resquícios da fracassada Revolução Paulista de 1924 que deixou a população com gosto de sangue na boca? Segundo um sociólogo amigo – que abraçou essa tese – os paulistas não podendo extravasar de outro modo, canalizaram sua agressividade para as torcidas que se engalfinham, como diria minha avó, por "dá cá aquela palha".
Depois da pancadaria, que provocou a morte de um torcedor, um promotor paulista propôs, para evitar novos conflitos, que apenas a torcida de um dos clubes tivesse acesso ao estádio. É provável que o promotor seja um aficionado de hóquei ou handebol, mas da grande paixão nacional entende tanto quanto eu de beisebol ou deveria saber que no futebol a torcida é parte integrante do espetáculo. Não fosse ela chamada de 12º jogador. Um jogo que tenha somente uma torcida nas arquibancadas é mais ou menos como botar em campo um jogador com uma perna só.
Ademais como definir a torcida que terá direito de entrar no estádio? Pelo mando de campo? A que chegar primeiro? Ou pelo comportamento demonstrado em partidas anteriores? Não consigo imaginar um jogo entre Corintians e Inter no Pacaembu com os gaúchos do lado de fora, espiando pelo buraco da fechadura com um radinho de pilha colado ao ouvido. Não seria esse um bom motivo para começar um quebra-quebra?
E depois como distinguir os torcedores que aparecerem à paisana - sem envergar a camisa de seu clube? Não será através da tal carteirinha proposta pelo Ministro dos Esportes que exige – alem de um computador para cada catraca – uma operação semelhante à da Policia Federal nos vôos internacionais. Sem falar que logo apareceriam milhares de carteiras falsificadas.
Reconheço que é um problema de difícil solução. O promotor chegou a declarar que as forças de segurança não dispõem de efetivo suficiente para marcar os torcedores homem a homem. A solução pode estar com a FIFA. Quem sabe entre as muitas providencias que ela está exigindo para botar o Morumbi dentro dos padrões, não inclui também aulas de educação esportiva para os maus torcedores? Algo como o nosso Detran faz com os maus motoristas . Enquanto isso, o promotor paulista poderia rever sua proposta sugerindo um sorteio entre os torcedores. Os dois ganhadores – um de cada clube – teriam acesso ao estádio representando todos os outros que ficarão do lado de fora. Que tal? Pelo menos tiraria a má impressão de um jogo com os portões fechados.
Um comentário:
A explicação para a violência nos estádios paulistas é a mesma para a violência nos estádios europeus, praticada pelos chamados holligans... Londres tbm é a mais rica, culta e educada das cidades européias e abriga as torcidas mais violentas e arruaceiras do velho continente... Ou seja, uma coisa não tem nada a ver com a outra... Talvez a melhor explicação para isto é a falta de perspectiva para certos jovens. Condenados a subempregos, sem chances de subir de vida, eles extravasam seu inconformismo deste jeito...
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