Viva a diversidade!
JORNAL DO BRASIL - 24/05/09
Nenhum técnico brasileiro fala tão bem e expõe com tanta clareza seus conceitos sobre futebol como Paulo Autuori. Mais ainda que Mano Menezes, outro treinador que não tropeça nas palavras. Isso não significa que concordo com tudo que dizem.
Paulo Autuori não tem apenas um belo discurso e uma bela voz. É excelente também na prática. Ele já foi campeão brasileiro, duas vezes da Libertadores, do Mundial de clubes, além de outros títulos e de outros bons trabalhos.
Isso não dá a ele nenhuma certeza de que terá sucesso no Grêmio. Há muitos fatores envolvidos no trabalho de um técnico e na conquista de um título. Treinador não ganha jogo. Ajuda e, às vezes, atrapalha. Um técnico não pode ser avaliado somente pelo número de títulos.
Por ter tido paralisia infantil, Paulo Autuori nunca foi um atleta. Isso não o impediu de se tornar um ótimo técnico.
Um ex-atleta, mesmo que tivesse sido craque, não vai ser ótimo treinador se não tiver outras qualidades e novos conhecimentos. Isso não significa que terá, obrigatoriamente, de cursar uma faculdade. Muitos acadêmicos estudam muito e não conseguem ser brilhantes.
A capacidade de observar detalhes subjetivos e de descobrir o que não foi planejado nem dito não se aprende na escola. "O essencial é saber ver, saber ver sem estar a pensar" (Fernando Pessoa).
Muitos ex-atletas não se tornam bons treinadores, principalmente os que foram craques e que possuem boa situação financeira, porque não aceitam começar pelas categorias de base e pelas pequenas equipes. Desistem após a primeira grande derrota e a primeira grande vaia. Vão ser comentaristas. É mais fácil. Muitos bicam nas duas atividades, dependendo das propostas.
Além disso, os técnicos cobram demais de treinadores que foram grandes craques, como se eles tivessem o compromisso de ser tão espetaculares quanto foram como atletas. Comparam épocas e situações diferentes. Imagino também que alguns críticos de literatura não devem ter gostado do livro Leite derramado, de Chico Buarque, só porque o livro, para eles, não é tão maravilhoso como as melhores músicas do genial artista. Achei o livro excepcional.
Alguns ex-atletas se tornam grandes campeões no início de suas carreiras de treinadores. O jovem Guardiola, que já é campeão espanhol e da Copa do Rei, poderá também ganhar a Liga dos Campeões da Europa. Evidentemente, isso só vai acontecer em um grande clube, como o Barcelona.
Dunga, desde que não escale um Afonso, poderá ser campeão do mundo no seu primeiro trabalho de treinador.
Alguns jornalistas e treinadores formados em educação física não deveriam ter preconceito com ex-atletas que se tornam treinadores, comentaristas e que não possuem diploma. Da mesma forma, alguns ex-jogadores não deveriam ter preconceito com treinadores e comentaristas que nunca jogaram bola.
Há treinadores e comentaristas bons e ruins com formações diferentes. Um treinador ou comentarista pode ser brilhante até sem ter sido atleta e nunca ter frequentado uma faculdade. Viva a diversidade!
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