Cada um na sua
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/05/09
Enquanto exige apoio do PT nos Estados como pré-requisito para se comprometer com a candidatura presidencial de Dilma Rousseff, a parcela do PMDB hoje mais próxima do governo não dá o menor sinal de que pretenda incomodar os correligionários inclinados a caminhar com o PSDB em 2010.
Num encontro dias atrás em Brasília, um cardeal do PMDB pró-Dilma tranquilizou um expoente do PMDB serrista: não haverá, assegurou o primeiro, nenhuma tentativa de amarrar o partido inteiro no barco da candidata de Lula. Cada Estado terá liberdade para fechar o acordo que lhe parecer mais conveniente. É o caminho para tornar tudo mais simples para o PMDB no dia seguinte, seja quem for o eleito.
Quinhão. Em recente reunião de peemedebistas, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) disse que estará ao lado de Dilma em 2010, desde que o PT baiano respeite seu espaço na eleição. Leia-se: o partido deve abortar as pretensões do deputado Walter Pinheiro e especialmente do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, de disputar o Senado.
Até agora. Do líder da bancada peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), negando que seu partido esteja dando corda à imorredoura conversa do terceiro mandato: "O PMDB só dará um passo nesse sentido com o aval do presidente Lula. E ele até agora tem dito muito claramente que não quer".
Aí não. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, deve se manifestar em breve contra qualquer tese que leve à prorrogação dos atuais mandatos. O ministro tem lembrado que, quando foi advogado-geral da União, no governo FHC, se opôs à simples mudança de dia da posse presidencial, pois isso representaria quebra de princípio constitucional.
Poeira 1. A mais recente pesquisa tirada do forno por aliados de Geraldo Alckmin mostra o ex-governador e atual secretário de Desenvolvimento com 43% de intenção de voto para o Palácio dos Bandeirantes. O nome do PT mais bem colocado no levantamento é o da ex-prefeita Marta Suplicy, com 13%.
Poeira 2. Tão ou mais do que os 43%, os alckmistas se alegram em mostrar o 1% obtido na mesma pesquisa pelo chefe da Casa Civil do governo Serra, Aloysio Nunes Ferreira, outro pré-candidato tucano à sucessão estadual.
Cavalo de Tróia. Estão na Câmara, e não no Senado, os peemedebistas que cobiçam a diretoria de Exploração da Petrobras. São os mesmos que já lançaram ofensiva sobre o fundo de pensão de Furnas. A CPI é o pretexto da vez.
Arrasta pé. Historicamente ligado ao setor energético, José Carlos Aleluia (DEM-BA) recomenda que a CPI não se perca nos patrocínios culturais da Petrobras. "Se for por aí", diz o deputado, "vai virar a CPI do Forró".
Duto 1. O leque de contratos da Petrobras que poderá entrar na mira da CPI inclui patrocínio a modalidades esportivas, pagamentos a clubes e contratação de escritórios de advocacia e consultoria. Quase tudo sem licitação.
Duto 2. Outro canal visado pela CPI são os repasses da Petrobras para fundações ligadas a universidades, que frequentaram o noticiário quando escândalos atingiram reitores em Brasília e São Paulo. Nos últimos quatro anos, a estatal injetou cerca de R$ 210 milhões em universidades e suas fundações.
PACderme. A inauguração do Trem do Pantanal teve festa e convidados ilustres, como o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, mas isso não impediu Lula de desabafar com aliados ao final da viagem: "Que trem lerdo e quente!"
Tiroteio
"São eles quem privatizam a Petrobras na surdina, um pouco todos os dias, contrato por contrato."
Contraponto
C'est moi Ministro do Planejamento de Castello Branco, Roberto Campos seguiu orientação do presidente e foi conversar com o marechal Costa e Silva, então ministro da Guerra, sobre os capítulos econômicos da Constituição de 1967.
Campos, conforme narrado na recém-lançada biografia do advogado José Luiz Bulhões Pedreira, aproveitou o encontro para sugerir que Costa e Silva colocasse fim às especulações sobre a substituição do presidente do Banco Central. Defendeu mandato fixo para o cargo, sob o argumento de que isso daria estabilidade à política monetária.
-O Banco Central é o guardião da moeda!- pregou.
Costa e Silva ouviu, mas já tinha a resposta engatilhada:
-O guardião da moeda sou eu.
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