Porteira fechada
O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/05/09
No que depender do PMDB, citado como uma possível alternativa de filiação para Delúbio Soares concorrer a uma vaga de deputado federal por Goiás, é melhor o ex-tesoureiro do PT se ajeitar com seu antigo partido ou então tentar a sorte em outra freguesia. Agremiação de critérios reconhecidamente flexíveis, o PMDB considera, contudo, que para tudo há limite. Aceitar a inscrição da figura símbolo do mensalão, por exemplo, está fora de cogitação.
Os dirigentes ainda não falam do assunto oficialmente. Por três motivos: primeiro, porque não houve nenhum pedido de filiação por parte de Delúbio, apenas especulações. Segundo, por causa do constrangimento que o assunto provoca no Governo Federal, cuja coalizão o PMDB integra na condição de parceiro preferencial.
Em terceiro lugar, os pemedebistas já têm problemas suficientes para administrar desde que assumiram as presidências da Câmara e do Senado. Precisam de tudo, menos de se envolver na confusão alheia, para a qual nem foram formalmente chamados. E, se o partido for convocado, oficial ou extraoficialmente a prestar esse favor ao PT, livrando-o do da problemática decisão?
“O partido não aceitaria”, responde um dirigente do primeiríssimo escalão, recusando o convite para explicar as razões com um sorriso que traduz o óbvio: o conjunto da obra, ora sob exame no Supremo Tribunal Federal, dispensa justificativas.
A despeito da reputação combalida, o PMDB tem um lema: todo mundo pode ter do partido a pior imagem, mas o partido se dá ao direito de não concordar, acha que tem o dever de fazer de si a melhor avaliação, aplicando suas balizas como bem lhe aprouver.
Por exemplo, recusa-se a cumprir o papel de guardião de companhias que o PT, por pragmatismo político, considera inconvenientes. Nesse caso específico, pelo menos, já que na fase de cooptação de parlamentares não se recusou - bem como outros partidos da “base”- a abrigar políticos nos quais os petistas não reconheciam padrão de qualidade à altura do partido
Delúbio, no entendimento do PMDB, é um problema relativo à economia doméstica (sem duplo sentido) do PT. Cabe a ele administrar a questão sem tentar transferi-la, a não ser que alguma legenda se disponha a bancar o eventual ingresso de Delúbio Soares no Legislativo, com direito a foro especial de Justiça, imunidade parlamentar etc.
Ademais, há certa desconfiança em relação a essa ofensiva pela revogação da expulsão, mesmo tendo o presidente Luiz Inácio da Silva feito questão de manifestar sua contrariedade, por considerar a atitude “um tiro no pé” para o PT durante o processo de sucessão presidencial.
Nada comprovado. Apenas uma leve impressão de que a ideia seria pôr o assunto em discussão de público, quebrar o tabu, retirar o ex-tesoureiro do degredo, tornar banal a hipótese da volta à cena e, uma vez constatada a resistência dentro do PT, a filiação de Delúbio a qualquer partido já teria adquirido naturalidade.
Desse ponto em diante é que o PMDB não quer fazer parte da história.
CIPÓ DE AROEIRA
O presidente Lula tem toda razão em repudiar a propaganda do PPS dizendo que o governo vai mexer na poupança como “fez o Collor”. Trata-se de uma ilação mentirosa. Agora, serve de lição ao PT que tantas parecidas fez - na campanha da reeleição mesmo, insinuando que o adversário, se ganhasse, privatizaria a Caixa Econômica, o Banco do Brasil e a Petrobrás - sem pensar no quanto é ardida a pimenta da perfídia.
“PORMAIOR”
O deputado Edmar Moreira argumenta: se quem usou indevidamente passagens aéreas merece perdão, quem usou de forma indevida a verba indenizatória também deve ser perdoado.
Um sofisma eficaz, não fosse por um detalhe. O abuso nas passagens resultou de créditos equivocada, mas oficialmente concedidos e a infração no uso da verba implicou a utilização de notas fiscais frias de serviços não comprovados.
O Conselho de Ética da Câmara poderá facilmente derrubar a alegação desde que, evidentemente, não se deixe contaminar pelo “vício insanável da amizade”.
QUEIJO, QUEIJO
A ideia de fazer do mineiro Itamar Franco candidato a vice do PSDB em 2010 pressupõe que o cabeça de chapa seja o governador de São Paulo, José Serra, e não o governador de Minas, Aécio Neves.
Isso contraria a decisão da cúpula do partido de não fazer nenhum movimento que possa dar a impressão de que Aécio é coadjuvante no processo.
De qualquer forma, essa história de vice é só mais um balão solto no ar. Bom para afagar o conturbado ego de Itamar, mas inútil diante do projeto da oposição de unir São Paulo e Minas, a fim de garantir vantagem na largada e compensar o apoio ao governo no Nordeste.
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