Fio dental agora é obrigatório em Santos
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/05/09
O Estado deu para proteger o cidadão de si próprio com uma desenvoltura de fazer inveja a Josef Stálin |
AS GORDINHAS que costumam se esbaldar nas areias do Boqueirão, as roliças que saltitam entre as ondas do José Menino e as adiposas que correm atrás do carrinho de sorvete na Ponta da Praia devem ter tomado um susto de cair da cadeira Rochedo com o título aí em cima.
Mas, como hoje é dia de relaxar em nome do trabalho, começo as devidas explicações sobre o enunciado pegando no tranco. Sabe aquela do português que foi ao dentista? Depois de um exame preliminar, o dentista constatou que seu Manoel estava com a boca cheia de cáries. "O senhor utiliza fio dental?", perguntou o especialista. E o alentejano respondeu: "Não, senhor, tenho um bumbum muito feio".
No Estado de São Paulo, legisladores grafômanos rabiscam uma lei inútil atrás da outra. E ninguém mais parece distinguir a história do Manoel da vida real.
Em Santos, acredite se quiser, uma lei municipal aprovada nesta semana obriga todos os estabelecimentos que vendem comida a oferecer fio dental gratuitamente aos clientes. Pois é, até entre o consumidor e seus dentes o Estado resolveu se meter. Daqui a pouco, não será de admirar se o cidadão tiver de tirar uma autorização por escrito para pode flatular em paz.
O governo cobra impostos sobre os cigarros, mas impede que se fume em quase tudo que é canto, inclusive no carro. Acabamos de criar uma das leis mais rigorosas do mundo no que diz respeito ao consumo de tabaco, mas ninguém está nem aí com a quantidade de hormônios que existem na carne ou com os agrotóxicos nas hortaliças.
E os esforços para melhorar a qualidade do ar que se respira na cidade continuam a ser risíveis. Nada é proporcional, tudo é canetada, tudo é passageiro, fruto do oportunismo, é bola da vez, é conveniência deste ou daquele. O Estado agora deu para proteger o cidadão de si próprio com uma desenvoltura de fazer inveja a Josef Stálin, metendo-se em todas as esferas da vida privada, mesmo sem nunca ter oferecido à população o arroz e feijão em quesitos fundamentais, tais como educação, saúde, saneamento e transporte.
E, como se já não bastassem os impostos que nos tungam, como se já não estivéssemos fartos de fazer papel de bocó andando por aí há anos com extintores de incêndio no carro que nunca foram ou serão utilizados, agora teremos de pagar por caríssimos airbags em todos os automóveis produzidos -faz sentido isso em um país emergente?
E o que o nobre leitor me diz das amostras que deveriam estar chegando ao Butantã com urgência máxima para ajudar no desenvolvimento da vacina contra a gripe suína e que, por conta de mais uma lei estúpida qualquer, vão demorar outros 60 dias, uma eternidade em termos de pandemia?
O Estado que se mete em tudo, que inventa leis e mais leis para mostrar serviço (a baixo custo) fatalmente acabará criando uma falsa impressão de proteção. Desconfio que um dos tantos subprodutos nefastos desse excesso de leis que não servem para nada será o surgimento de um novo tipo de contribuinte. Que não bebe, não fuma e usa fio dental, mas que não deixa de ser um analfabeto funcional.
Mas, como hoje é dia de relaxar em nome do trabalho, começo as devidas explicações sobre o enunciado pegando no tranco. Sabe aquela do português que foi ao dentista? Depois de um exame preliminar, o dentista constatou que seu Manoel estava com a boca cheia de cáries. "O senhor utiliza fio dental?", perguntou o especialista. E o alentejano respondeu: "Não, senhor, tenho um bumbum muito feio".
No Estado de São Paulo, legisladores grafômanos rabiscam uma lei inútil atrás da outra. E ninguém mais parece distinguir a história do Manoel da vida real.
Em Santos, acredite se quiser, uma lei municipal aprovada nesta semana obriga todos os estabelecimentos que vendem comida a oferecer fio dental gratuitamente aos clientes. Pois é, até entre o consumidor e seus dentes o Estado resolveu se meter. Daqui a pouco, não será de admirar se o cidadão tiver de tirar uma autorização por escrito para pode flatular em paz.
O governo cobra impostos sobre os cigarros, mas impede que se fume em quase tudo que é canto, inclusive no carro. Acabamos de criar uma das leis mais rigorosas do mundo no que diz respeito ao consumo de tabaco, mas ninguém está nem aí com a quantidade de hormônios que existem na carne ou com os agrotóxicos nas hortaliças.
E os esforços para melhorar a qualidade do ar que se respira na cidade continuam a ser risíveis. Nada é proporcional, tudo é canetada, tudo é passageiro, fruto do oportunismo, é bola da vez, é conveniência deste ou daquele. O Estado agora deu para proteger o cidadão de si próprio com uma desenvoltura de fazer inveja a Josef Stálin, metendo-se em todas as esferas da vida privada, mesmo sem nunca ter oferecido à população o arroz e feijão em quesitos fundamentais, tais como educação, saúde, saneamento e transporte.
E, como se já não bastassem os impostos que nos tungam, como se já não estivéssemos fartos de fazer papel de bocó andando por aí há anos com extintores de incêndio no carro que nunca foram ou serão utilizados, agora teremos de pagar por caríssimos airbags em todos os automóveis produzidos -faz sentido isso em um país emergente?
E o que o nobre leitor me diz das amostras que deveriam estar chegando ao Butantã com urgência máxima para ajudar no desenvolvimento da vacina contra a gripe suína e que, por conta de mais uma lei estúpida qualquer, vão demorar outros 60 dias, uma eternidade em termos de pandemia?
O Estado que se mete em tudo, que inventa leis e mais leis para mostrar serviço (a baixo custo) fatalmente acabará criando uma falsa impressão de proteção. Desconfio que um dos tantos subprodutos nefastos desse excesso de leis que não servem para nada será o surgimento de um novo tipo de contribuinte. Que não bebe, não fuma e usa fio dental, mas que não deixa de ser um analfabeto funcional.
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