A equipe de Lula em 2010 é um mistério para o qual possivelmente nem ele tem a resposta. Pode ser um grande comitê eleitoral ou uma demonstração do vazio que cerca o fim dos mandatos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem horror à perspectiva do fim do mandato. Não, esta não é mais uma coluna sobre o fantasma de alguma manobra para quebrar o arcabouço legal e tentar lhe garantir mais algum tempo de poder. Já deixei claro em outros textos que não acredito nessas teorias conspiratórias. Lula sairá em 1º de janeiro de 2011. E é justamente a inexorabilidade desse afastamento que o preocupa. O presidente gosta do poder e quer exercê-lo plenamente até o último momento. O que lhe causa apreensão é o risco daqueles últimos meses, em que o político com a expectativa de poder se torna mais importante do que o atual ocupante do cargo. Como diz a velha piada, são aqueles momentos em que o café demora tanto a ser providenciado que já chega frio ao gabinete.
Lula tentará fugir a essa regra e até já tem uma fórmula. Como não pode ser candidato, investiu na criação da candidatura de sua auxiliar mais próxima, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Avalia que, no último ano de mandato, a condição de privilegiado cabo eleitoral lhe garantirá a importância que deseja. É uma boa aposta. Todos, no governo e na oposição, sabem que o alcance da candidatura oficial dependerá diretamente da popularidade de Lula e do grau de envolvimento que ele terá na campanha.
O que me deixa preocupado é imaginar o que acontecerá com o governo federal ao longo de 2010. Um levantamento feito pelo jornalista Josias de Souza revela que entre 18 e 21 ministros pensam em candidatar-se a algum cargo nas próximas eleições. Tudo bem que o governo Lula tem 37 ministros, mas mesmo assim, será uma tremenda mudança. A lei eleitoral exige que eles saiam dos cargos em março de 2010, quando ainda faltarão nove meses para o fim do mandato do presidente.
Será uma megarreforma ministerial. Alterará as áreas mais sensíveis do governo, desde a Casa Civil até o Banco Central, passando por Educação, Justiça e outras pastas estratégicas. E, para complicar ainda mais a vida do presidente, ele não poderá chamar para sua equipe ninguém que tenha pretensões eleitorais.
O presidente nunca se mostrou muito confortável com reformas ministeriais. Leva um longo tempo para afastar auxiliares e ainda mais para escolher os novos ocupantes das cadeiras. Isso, quando a encrenca envolve um ministério. Imagine-se com 20.
Qual será a cara dessa equipe de final de mandato? A saída dos políticos e a impossibilidade de chamar outros apontariam para uma equipe de técnicos. Por outro lado, Lula aposta na força do governo para eleger Dilma. É de se supor que ele espere ver seus ministros trabalhando politicamente por sua candidata.
Deverão ser técnicos escolhidos politicamente, por indicações dos partidos que integram a base do governo. Mas também terão que contar com a confiança de Lula. A última coisa que ele vai querer é descobrir que algum de seus novos ministros está fazendo corpo mole ou ajudando outros candidatos.
Há outro elemento para complicar a equação. A base governista de hoje é congressual. Foi montada para dar a Lula maioria na Câmara e no Senado. O presidente deseja que a mesma (imensa) base esteja no palanque de Dilma, ao menos formalmente. Mas essa será uma nova negociação, com regras próprias. Os espaços no ministério podem ser tanto uma forte moeda de troca quanto um instrumento de retaliação contra os rebeldes. A lei eleitoral impõe uma série de restrições ao uso político da máquina pública em anos eleitorais, mas todos sabem que apesar delas os cargos mantém boa parte do seu poder de fogo.
A equipe de Lula para o último ano de governo é um mistério para o qual possivelmente nem ele tem a resposta. Pode ser um grande comitê eleitoral ou uma demonstração do vazio que cerca o fim dos mandatos. |
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