Uma vez, no século passado, comia algo na lanchonete da Assembleia Legislativa de São Paulo até dar com a tabela do campeonato interno de futebol. Chamou-me a atenção o número alentado de times, ainda mais porque boa parte dos funcionários era do sexo feminino e o torneio interno não as incluía. Era uma evidência óbvia do inchaço típico do poder público. Por isso, não me emocionou muito o bom trabalho de Silvia Amorim, no "Estadão", apontando o fato de que "os deputados estaduais de São Paulo parecem seguir alheios ao combate do desperdício de dinheiro público". Silvia refere-se especificamente a atos dos dois meses mais recentes da Mesa que "mantiveram antigas regalias para deputados, como gabinetes especiais para ex-presidente, ex-primeiro-secretário e ex-segundo-secretário, com carro oficial e cargos de confiança". Sou obrigado a confessar que ando, como a maioria da população, meio anestesiado pela catarata de escândalos dos últimos muitíssimos anos. Há coisa mais antiga, por exemplo, do que a promiscuidade entre empreiteiras e políticos? Lembro-me que, anos atrás, um repórter desta Folha infiltrou-se numa reunião de empreiteiras e saiu dela com um relato impressionante da promiscuidade. O jornal publicou tudo. E daí? Daí, nada. Nada acontece quando se trata de corrigir um mundo político sumamente apodrecido. Mas o que sacudiu minha anestesia foi uma entrevista de Barros Munhoz (PSDB), presidente da Assembleia paulista, à rádio CBN, sobre a denúncia de Silvia Amorim. Disse pérolas como "a Assembleia é austera"; combater o inchaço denunciado "não é prioridade"; e algo sobre sua aversão a "ser pautado pela mídia". Essa gente perdeu completamente o fio terra e a noção de prestação de contas. |
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