Até tu, Gabeira?
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/04/09
SÃO PAULO - Sou um admirador de Fernando Gabeira desde muito antes de seu envolvimento com a política partidária. É um extraordinário repórter, escreve muitíssimo bem -e quem, como eu, vive há 45 anos de fazer reportagens e escrever (não tão bem quanto ele), só pode admirar os mestres. Na política, ele manteve alta a cota de admiração, pelo que diz, pelo que faz, pelas teses que levanta, pela combinação de sensatez e firmeza com que as defende.
Por tudo isso, imaginei que ao menos ele não se deixaria levar pela onda de abusos que toma conta do Congresso Nacional.
Os mais condescendentes dirão que o pecado de Gabeira (usar passagens da Câmara para parentes) é menor. Dirão também que ele admite o que chama de "erro".
De acordo, é melhor do que a absoluta e indigna cara-de-pau que vestem todos os demais pilhados em algum tipo de irregularidade, em geral bem mais gorda.
O triste no caso Gabeira é o que revela da, digamos, cultura da Casa. Os congressistas habituaram-se, primeiro, com privilégios de corte, que não fazem o menor sentido.
Depois, como decorrência do anterior, habituaram-se a abusar até dos privilégios.
Já escrevi aqui que o que os mortais comuns consideramos absurdo, obsceno, cínico, revoltante, os congressistas consideram normal -e, pior, espantam-se ou se revoltam com o espanto e a revolta de massa de nós outros.
Não creio que Gabeira tenha usado indevidamente passagens para parentes por má-fé. Errou porque está inserido em uma cultura podre. É preciso estar muito alerta para não cair em erro.
Agora, anuncia a renúncia à política se não conseguir derrubar alguns dos privilégios dos congressistas. Uma colossal maioria de brasileiros já renunciou à política faz tempo. Não resolve nada, mas que dá vontade, dá.
SÃO PAULO - Sou um admirador de Fernando Gabeira desde muito antes de seu envolvimento com a política partidária. É um extraordinário repórter, escreve muitíssimo bem -e quem, como eu, vive há 45 anos de fazer reportagens e escrever (não tão bem quanto ele), só pode admirar os mestres. Na política, ele manteve alta a cota de admiração, pelo que diz, pelo que faz, pelas teses que levanta, pela combinação de sensatez e firmeza com que as defende.
Por tudo isso, imaginei que ao menos ele não se deixaria levar pela onda de abusos que toma conta do Congresso Nacional.
Os mais condescendentes dirão que o pecado de Gabeira (usar passagens da Câmara para parentes) é menor. Dirão também que ele admite o que chama de "erro".
De acordo, é melhor do que a absoluta e indigna cara-de-pau que vestem todos os demais pilhados em algum tipo de irregularidade, em geral bem mais gorda.
O triste no caso Gabeira é o que revela da, digamos, cultura da Casa. Os congressistas habituaram-se, primeiro, com privilégios de corte, que não fazem o menor sentido.
Depois, como decorrência do anterior, habituaram-se a abusar até dos privilégios.
Já escrevi aqui que o que os mortais comuns consideramos absurdo, obsceno, cínico, revoltante, os congressistas consideram normal -e, pior, espantam-se ou se revoltam com o espanto e a revolta de massa de nós outros.
Não creio que Gabeira tenha usado indevidamente passagens para parentes por má-fé. Errou porque está inserido em uma cultura podre. É preciso estar muito alerta para não cair em erro.
Agora, anuncia a renúncia à política se não conseguir derrubar alguns dos privilégios dos congressistas. Uma colossal maioria de brasileiros já renunciou à política faz tempo. Não resolve nada, mas que dá vontade, dá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário