Sem alarde, Petrobras cresce nos EUA, já é seu 8º maior fornecedor e toma mercado até da Opep
Sem alarde, a Petrobras está conquistando uma sólida e crescente participação entre os maiores fornecedores de petróleo cru e seus derivados nos EUA, num avanço que vem de longe, mas ganha força de 2003 para frente, no governo Lula, e chega a 2009, em plena crise, já deslocando até fornecedores tradicionais do cartel da Opep.
No último relatório da Administração de Informação de Energia dos EUA, EIA em inglês, referente a abril, o Brasil aparece como o 8º maior exportador de petróleo, com a média de 382 mil barris/dia no primeiro bimestre, 126% acima do volume exportado em igual período do ano passado. Está acima de grandes exportadores, como Argélia e Rússia, e segue Canadá, México, Arábia Saudita, Venezuela, Angola, Iraque e Nigéria, pela ordem, no ranking da EIA.
Incluindo derivados, a Rússia sobe para a 8ª posição e Brasil vem para a 9ª, mas os volumes exportados são mais impressionantes. Nos dois primeiros meses do ano, a Petrobras exportou para os EUA 417 mil barris/dia, mais que o dobro que em 2008. Em janeiro, a média diária foi ainda maior, 450 mil/dia, quase tanto quanto a Rússia — maior produtor mundial com 9,71 milhões de barris/dia, 1,64 milhão acima do segundo colocado, a Arábia Saudita.
Tais números revelam uma tendência — função no Brasil do aumento gradativo da produção da Petrobras, que irá intensificar-se com o início da exploração de petróleo em alto mar no chamado pré-sal. E nos EUA, desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, da diversificação de fornecedores por razões de segurança.
É a mesma motivação de outros dois grandes importadores, o bloco europeu e a China, que buscam fornecedores estáveis politicamente, não hostis – premissa tratada como geopolítica no caso dos EUA — e garantias contra um risco potencial: a redução das reservas ou por esgotamento, situação no Mar do Norte e no México, mas que também é ameaça na península arábica, segundo especialistas, ou por falta de investimentos, drama, sobretudo, da Venezuela e Nigéria.
A Rússia cresce nesse vácuo, mas é vista com desconfiança. Várias vezes, sob o governo de Vladimir Putin, a Rússia se serviu do gás, de que é o maior fornecedor da Europa, como arma política contra suas ex-repúblicas da era soviética. Sem histórico de conflitos e relações adjetivadas, o Brasil começa a entrar neste mercado sutil e sibilino pela porta da frente dos fornecedores dos EUA. E logo mais da China, com quem a Petrobras negocia desde o ano passado um acordo de financiamento do pré-sal com pagamento em petróleo.
Brasil incomoda Desde 2003, três exportadores de petróleo vêm ganhando espaço no mapa dos fornecedores dos EUA, ainda os maiores consumidores do mundo, apesar da crise: Angola, Rússia e Brasil. Angola é o 5º do ranking de fornecedores, e ampliou 63% seus embarques nos últimos cinco anos até fevereiro passado. No mesmo período, as entregas da Rússia cresceram 96%. O grande destaque foi Brasil, com aumento de 286%, um feito histórico. O petróleo, até os anos 80, sangrava as contas externas brasileiras. O país afundou nas décadas de 70 e 80 com o embargo de exportações e dois choques de preços promovidos pela Opep. Hoje, as exportações da Petrobras incomodam o cartel.
Com a língua de fora O ministro do Petróleo da Argélia, Chakib Khelil, que presidiu a Opep em 2008, manifestou-se, em março, “desapontado” com a Rússia por não ter acompanhado o corte de produção feito para sustentar o preço, que caiu do recorde de US$ 147,27 em julho para a faixa de US$ 40. Os 11 membros da Opep fizeram três cortes, tirando 4,2 milhões de barris do mercado, 14% da oferta do cartel. O melhor que conseguiu foi um precário equilíbrio. Para o ministro saudita Ali Al-Naimi, ouvido pela Bloomberg, o preço precisa estar entre US$ 60 e US$ 70 para custear pesquisas. Na verdade, para impedir que os países produtores, como Venezuela, ponham a língua de fora.
Ações de longo curso Com a recessão, EUA cortaram 818 mil barris importados da Opep e, ao mesmo tempo, dobraram as compras no Brasil, 29% de Angola e 18% da Rússia, tendência que continua. Segundo a Bloomberg, Brasil e Rússia faturaram US$ 23,2 milhões/dia com exportações aos EUA em janeiro. É um movimento geoestratégico de longo curso, que se soma às decisões do governo Obama de expandir a produção interna, a 3ª maior do mundo, que só caía desde 1998, e incentivar energias que substituam o petróleo. Questões para o Brasil refletir.
Ruptura de paradigmas O que os EUA fizerem na área energética importa ao Brasil não só pelo aspecto comercial, mas como definição de padrões. O programa de resgate das montadoras GM, Chrysler e Ford, por exemplo, força-as a reinventar a produção de motores. Os híbridos elétricos têm a preferência, e já atraem Japão e China. Na área elétrica, os EUA assumiram a liderança da produção eólica e estudam trocar o carvão por energia nuclear e tecnologias de ruptura, como a fotossíntese sintética. A saída da crise financeira, na concepção do governo Obama, envolve o relançamento da indústria, capitaneada por novas energias. Num cenário assim, o pré-sal só pode ser acelerado. |
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