A FALTA DE proposta referente a mandato presidencial no pacotinho de "reforma política", elaborado pelo governo, ganha menos relevância pelo silêncio, em si, do que por desprezar a ideia, muitas vezes defendida por Lula já na Presidência, de que a reeleição deveria ser substituída pelo mandato único de cinco anos. A omissão poderia significar apenas isso mesmo, omissão, se não houvesse um ponto de reforma dado pelo próprio Lula como conveniente. O único, aliás, a que se referiu a propósito de reforma política. Esse aspecto da omissão casa-se muito bem com dois fatos precedentes, e notórios, a respeito do futuro mandato presidencial. Gesto político anormal, foi o presidente mesmo quem precipitou, ainda a meio do atual mandato, o tema da sucessão presidencial. E, entre todas as possíveis insinuações e frouxas negaças, saiu pelo país com uma aparente candidata cujas qualidades pessoais dispensaram Lula de cobranças, mas não iludiram, nela e em ninguém, sua condição injustificável eleitoralmente. As propostas do pacotinho estão sujeitas, na Câmara e no Senado, a reformulações, exclusões e, o que pode ser muito aproveitado, introdução de outros pontos reformadores. Logo, o pacotinho presidencial vem, antes tudo, liberar as intuições e as especulações.
Vamos ler A América Latina jamais foi considerada assunto relevante no conjunto da imprensa brasileira. A atenção que merecia nunca passava dos exatos dias de crise e golpe ali ou acolá. O pioneiro no tratamento da América Latina como parte do planeta, e em particular do Ocidente, foi Newton Carlos, no "Jornal do Brasil" dos anos 50 para 60, o que lhe deu prêmios internacionais e muitos seguidores. Mesmo depois disso, se o Brasil vivia de costas para a América Latina, o conjunto da imprensa brasileira não queria vê-la nem pelo retrovisor. Motivos, vários, que não vêm ao caso, impuseram a América Latina à imprensa brasileira, nos últimos anos. Tudo sugere que é um começo de descoberta para alargar-se e perdurar. Mas o desconhecimento da América Latina pelos brasileiros é, pode-se dizer, absoluto, dificultando-lhes a compreensão das realidades e fatos que agora lhe chegam. E tal carência o jornalismo não pode suprir, ou só o faria a prazo longo. Os livros, então, sempre os livros. A Paz e Terra é uma editora com história. Criada por Enio Silveira e dirigida por Moacyr Felix, foi uma fortaleza intelectual contra a ditadura. Fernando Gasparian não a deixou a morrer, com a Civilização Brasileira de Enio, nem que se descaracterizasse. Hoje, com seus herdeiros, entra em nova fase. E é nela que saem os primeiros volumes da série "Revoluções de Independências e Nacionalismos nas Américas", de Marco A. Pamplona e Maria Elisa Mäder. Volta-se a entender, aos poucos, que nenhuma parte do mundo pode ser pensada isoladamente. Embora anterior à eclosão da crise econômica, "O Mundo Pós-Americano", com a garantia que é o selo da Companhia das Letras, é muito útil e interessante. Seu autor, Fareed Zakaria, é um dos jornalistas mais em evidência hoje nos Estados Unidos, trabalhando para a CNN e a revista "Newsweek". Indiano, tem olhares mais largos para o mundo do que é usual em seus colegas do jornalismo dos EUA. |
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